O terrorista venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, também conhecido como Carlos, o Chacal, retornou ao banco dos réus na França nesta segunda-feira (5) para ser julgado em seu último grande processo, o de apelação pela condenação a sua terceira prisão perpétua por um atentado cometido em 1974.
Com um sorriso, Carlos levantou a mão direita, enquanto se dirigia ao banco dos réus, antes de mandar um beijo para a imprensa. “Eu sou um revolucionário profissional, a revolução é a minha profissão”, afirmou, dizendo ter “nacionalidades venezuelana e palestina”, e ser residente de “todos os lugares”.
Aos 68 anos, o terrorista recorreu dessa sentença ditada há um ano por um tribunal penal formado por um júri profissional.
Apesar da ausência de provas materiais, os juízes consideraram que todos os elementos indicavam que Carlos estava por trás da morte de duas pessoas em uma galeria comercial no centro de Paris, vítimas de uma granada lançada por uma pessoa, que também deixou 34 feridos.
Os juízes basearam seu veredito no fato de que ‘Carlos’ estava à frente do braço europeu da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), que pressionava pela libertação de um ativista japonês de um grupo terrorista ligado a essa organização.
O próprio Ramírez tinha reivindicado a autoria de um atentado em um jornal árabe e um dos membros de seu grupo na época, o terrorista alemão arrependido Hans Joachim Klein, afirmou várias vezes que Carlos era o autor daqueles fatos.
O Chacal aproveitou a tribuna pública durante o julgamento para acusar o Estado francês de manipular os fatos mediante “agentes intoxicados com cocaína” que tinham “sabotado” o processo com “manipulações grosseiras”.
“Não sou inocente, mas este processo é um absurdo partindo de todos os pontos de vista”, disse o Chacal.
Carlos não negou seu passado de “guerrilheiro” e assumiu responsabilidade por 1.500 mortes, 80 delas com suas próprias mãos, mas negou qualquer envolvimento no caso pelo qual estava sendo julgado.
Ramírez Sánchez está preso na França desde agosto de 1994, quando foi capturado no Sudão em uma operação do serviço secreto francês.
Carlos, o Chacal, ficou famoso internacionalmente nos anos 70 e 80 por uma série de ataques terroristas. Em uma das suas operações mais dramáticas, liderou um comando que atacou um encontro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em Viena em 1975. Fez mais de 60 reféns, incluindo 11 ministros da Opep, e três pessoas foram mortas.
A primeira condenação à prisão perpétua foi recebida em 1997, pelo assassinato de dois agentes secretos franceses e de um informante em 27 de junho de 1975.
A segunda condenação foi confirmada em apelação em junho de 2013 por quatro atentados cometidos na França em 1982 e 1983, nos quais morreram 11 pessoas e cerca de 200 ficaram feridas.
O atentado pelo qual o Chacal será julgado em apelação foi cometido em 15 de setembro de 1974 na galeria comercial Drugstore Publicis que ficava em pleno coração de Paris.
Nascido em Caracas em 1949, Ramírez era um advogado marxista. Estudou em Moscou e se mudou para o Líbano, onde ingressou na Frente Popular para a Libertação da Palestina.
Na Europa, manteve ligações com um grupo terrorista alemão, o Fração do Exército Vermelho (RAF). Ganhou a alcunha de Carlos, o Chacal após uma cópia do livro O dia do chacal, de Frederick Forsyth, ser encontrada por polícias em um quarto de hotel em que se hospedou.
Ciberia // EFE