Durante suas últimas órbitas em 2017, a sonda Cassini mergulhou entre os anéis de Saturno e sua atmosfera, sendo banhada por uma chuva de partículas que os astrônomos chamaram de ring rain.
A sonda internacional da NASA, que explorou Saturno esuas luas entre 2004 e 2017, terminou seus trabalhos no ano passado, mas suas descobertas continuam a nos fascinar. Agora, e pouco depois de os cientistas terem perdido contato com Cassini, são publicadas novas pesquisas sobre as órbitas finais da sonda.
De acordo com uma nova pesquisa, publicada na semana passada na revista Science, uma equipe de cientistas recolheu com sucesso material microscópico que flui entre Saturno e seu anel mais interno – conhecido como anel D.
“Nossas medições mostram exatamente quais são esses materiais, como eles são distribuídos e quanta poeira entra em Saturno”, disse Hsu, autor principal do estudo e pesquisador associado do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial (LASP).
Durante décadas, os astrônomos suspeitaram que os anéis de Saturno atingiriam o planeta com grãos de gelo. Agora, e com as observações de Cassini divulgadas recentemente, surgem as primeiras visões detalhadas sobre essas chuvas celestes.
A pesquisa aponta que a chuva dos anéis está altamente contaminada com matéria orgânica e outras moléculas, atingindo Saturno com milhares de quilogramas por segundo. Compreender a quantidade e a composição dessas chuvas pode ajudar a esclarecer a origem e a evolução dos anéis do gigante gasoso, nota a Science News.
A água representa apenas 25% do material que “chove” dos anéis de Saturno para a atmosfera do planeta. De acordo com o estudo, o material restante é composto por metano, dióxido de carbono, nitrogênio, amônia, dióxido de carbono e nanopartículas orgânicas.
A diversidade da composição química da chuva de anéis foi “uma grande surpresa”, uma vez que observações remotas mostram que o sistema de anéis de Saturno é quase inteiramente constituído por gelo, explicou Lisa Spilker, astrônoma do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, que não participou do estudo.
Os cientistas ainda não conseguem explicar com certeza o motivo de a chuva de anéis ser tão desprovida de água. Mas uma coisa é certa: chove em Saturno. A cada segundo, os anéis do planeta fazem “chover” milhares de quilogramas de água gelada, bem como moléculas orgânicas e outras partículas minúsculas.
Golpe de engenharia e navegação
A descoberta agora divulgada é fruto da grand finale da missão, na qual Cassini realizou um conjunto de manobras arriscadas nos anéis do planeta. Segundo os cientistas, citados pela Physics.org, a recolha dessa poeira sob essas condições se revelouum golpe de engenharia e navegação, que a equipe já aspirava desde 2010.
“Essa é a primeira vez que partículas dos anéis de Saturno são analisadas com instrumentos construídos pelo homem”, disse Sascha Kempf, coautora do estudo e cientista associada do LASP. “Se há alguns anos tivessem perguntado se isso era possível, teríamos respondido ‘de forma alguma’”, reiterou a pesquisadora.
A incrível Cassini foi lançada em 1997, tendo chegado ao sexto planeta do Sistema Solar em 2004. A sonda, fruto de um projeto conjunto da NASA, ESA e da ASI, tinha como principal objetivo estudar Saturno e seus satélites naturais.
Ciberia // ZAP