Cientistas do Centro Champalimaud, em Portugal, identificaram circuitos de neurônios no cérebro de ratinhos que modulam a estimativa do tempo decorrido, ajudando a perceber porque é que o “tempo parece voar” em situações divertidas e “ficar parado” em momentos chatos.
A pesquisa, publicada na Science, descobriu que “a manipulação da atividade de certos neurônios no cérebro do ratinho levava esses animais a subestimar ou sobrestimar a duração de um intervalo de tempo fixo”, refere um comunicado divulgado essa quinta-feira (9) pelo Centro Champalimaud.
“Os cientistas identificaram, pela primeira vez, circuitos neurais que modulam a estimativa do tempo decorrido – pelo menos no cérebro do ratinho”, acrescenta.
Os resultados do trabalho, de Joe Paton, pesquisador principal do Learning Lab, de Sofia Soares, estudante de doutoramento, e de Bassam Atallah, pós-doutorado, dão uma resposta neurobiológica à antiga questão de perceber como o cérebro consegue produzir estimativas tão variáveis do tempo decorrido.
“O tempo voa, o tempo passa, o tempo para. Todas essas expressões mostram o quão variável pode ser nossa percepção da passagem do tempo”, refere o comunicado.
Esse foi o ponto de partida da pesquisa que pretendia perceber como é que o cérebro humano constrói essa experiência tão subjetiva.
Os resultados obtidos “também poderão ajudar a explicar porque é que o tempo parece voar quando nos divertimos e ficar parado quando não temos nada para fazer”, explica o Centro Champalimaud.
O grupo de neurocientistas estuda há vários anos as bases neurais da avaliação da passagem do tempo, no âmbito de um objetivo mais abrangente de perceber como o cérebro aprende a relacionar causas com efeitos, mesmo ao longo de grandes períodos de tempo.
Os cientistas se focaram num tipo de neurônios que libertam dopamina, um dos “mensageiros” químicos, ou neurotransmissores, utilizados pelo cérebro, e que fazem parte de uma zona profunda, a substantia nigra pars compacta, que está envolvida no processamento temporal.
“Esses neurônios dopaminérgicos estão implicados em muitos dos fatores e perturbações psicológicos associados a alterações na estimativa do tempo”, tais como motivação, mudanças sensoriais, atenção, novidade e emoções como medo ou alegria, escrevem os autores.
Nos seres humanos, a destruição da substantia nigra provoca a doença de Parkinson, que também é acompanhada de deficiências da perceção do tempo.
Quanto à possibilidade de extrapolar as conclusões do estudo para os seres humanos, segundo os autores, “é muito provável que um circuito semelhante exista no cérebro humano, mas o obstáculo que impede de tirar essa ilação é que o que agora mediram no ratinho não pode ser considerado uma perceção, porque os animais não conseguem dizer o que sentiram”.
// ZAP