As mitocôndrias dentro das células podem ser a chave para um envelhecimento sem doenças. Uma pesquisa da Escola de Saúde Pública Harvard T.H. Chan, nos EUA, descobriu que manipular as redes mitocondriais dentro das células, seja por restrição alimentar ou por uma manipulação genética que a imite, pode aumentar a vida útil de animais e promover a saúde.
O estudo, publicado na revista científica Cell, mostra a biologia básica envolvida na capacidade das células de processar a energia, que declina ao longo do tempo, o que leva ao envelhecimento e doenças relacionadas com a idade, e como as intervenções, como períodos de jejum, podem promover um envelhecimento saudável.
As mitocôndrias – as estruturas produtoras de energia nas células – existem em redes que mudam dinamicamente de acordo com a demanda de energia. Sua capacidade de fazer isso diminui com a idade, mas o impacto que isso tem sobre o metabolismo e a função celular nunca foi muito claro. Neste estudo, os pesquisadores mostraram uma ligação causal entre as mudanças dinâmicas nas formas das redes mitocondriais e a longevidade.
Os cientistas usaram C. elegans (vermes de nematódeos), que vivem apenas duas semanas e, portanto, permitiram um estudo de envelhecimento em tempo real no laboratório. As redes mitocondriais dentro das células geralmente alternam entre estados fundidos e fragmentados.
Os pesquisadores descobriram que restringir a dieta dos vermes, ou imitar a restrição alimentar através da manipulação genética de uma proteína sensora de energia, chamada proteína quinase ativada por AMP (AMPK), manteve as redes mitocondriais em estado fundido ou “jovem”. Além disso, eles descobriram que essas redes juvenis aumentaram o tempo de vida ao se comunicar com orgãos denominados peroxisomas para modular o metabolismo das gorduras.
“As condições de baixa energia, como restrição dietética e jejum intermitente, demonstraram anteriormente promover o envelhecimento saudável. Compreender por que isso acontece é um passo crucial para ser capaz de aproveitar os benefícios de forma terapêutica”, explica Heather Weir, principal autora do estudo, que conduziu a pesquisa na Escola Harvard Chan e agora é pesquisadora associada da Astex Pharmaceuticals.
“Nossas descobertas abrem novos caminhos na busca de estratégias terapêuticas que irão reduzir nossa probabilidade de desenvolver doenças relacionadas à idade à medida que envelhecemos”.
William Mair, professor associado de genética e doenças complexas na Harvard Chan School e autor sênior do estudo disse: “Embora trabalhos anteriores tenham demonstrado como o jejum intermitente pode diminuir o envelhecimento, estamos apenas começando a entender a biologia subjacente. Nosso trabalho mostra quão crucial a plasticidade das redes de mitocôndrias é para os benefícios do jejum. Se travarmos mitocôndrias em um estado, bloqueamos completamente os efeitos do jejum ou restrição alimentar na longevidade”.
Os próximos passos para os pesquisadores incluem testes do papel que as redes mitocondriais têm no efeito do jejum em mamíferos, e se os defeitos na flexibilidade mitocondrial podem explicar a associação entre obesidade e risco aumentado de doenças relacionadas à idade.
// HypeScience / Science Blog