Um “sítio incrível” com centenas de pegadas humanas, de mulheres e de crianças, com milhares de anos, está entusiasmando os cientistas responsáveis pela descoberta.
Detectadas no sopé do vulcão Ol Doinyo Lengai, na terra lamacenta de Engare Sero, na Tanzânia, as primeiras pegadas foram descobertas por um residente há cerca de uma década.
No entanto, só agora a equipe de investigação liderada pela geóloga Cynthia Liutkus-Pierce, da Universidade estatal Appalachian, na Carolina do Norte (EUA), conseguiu investigá-las devidamente.
Quando a informaram da descoberta das pegadas, a pesquisadora pensou que era “mentira de 1 de Abril”, porque foi exactamente nesse dia que teve conhecimento delas, conta à National Geographic. Depois, achou que fossem relativamente recentes.
Contudo, as análises de datação por carbono realizadas indicam que as pegadas terão entre cerca de cinco mil e 19 mil anos de antiguidade, explica a pesquisadora no artigo publicado na Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology.
Liutkus-Pierce afirma à BBC que acredita que é mais provável que tenham 19 mil anos do que cinco mil, devido aos minerais que contêm.
“Percebemos que reagem com água salina alcalina. E a única zona salgada próxima é o lago [Natron], que há mais de 10 mil anos era maior e pode ter inundado esta área“, diz a pesquisadora à BBC.
“Uma oportunidade incrível”
Estamos falando de “mais de 400” pegadas e “há muitas mais que não se escavaram”, explica Liutkus-Pierce, considerando que se trata de “uma oportunidade incrível de ver o comportamento de nossos antepassados”.
A paleo-antropologista Briana Pobiner, do Museu Nacional de História Natural, também envolvida na pesquisa, acrescenta à National Geographic que “as pegadas humanas são tão raras” que esta é uma possibilidade privilegiada para “investigar diretamente os aspetos sociais das vidas destes antigos humanos”.
As marcas resistiram durante milênios por causa das particularidades do vulcão a que a tribo africana Masai chama de “Montanha de Deus”, permitindo que este seja “o local de pegadas mais abundante e melhor preservado atualmente conhecido na África de Homo sapiens anatomicamente modernos”, refere o artigo científico sobre a pesquisa.
Mulheres e crianças e um homem com o pé quebrado
Liutkus-Pierce diz que se concluiu que as pegadas pertencem a mulheres e crianças por causa do tamanho.
Contudo, também haverá uma pegada que parece indiciar a passagem de um homem que teria o dedão do pé quebrado, constata a BBC.
Quanto ao motivo que as levou a passarem por ali, Liutkus-Pierce avança a possibilidade de que estivessem procurando “alguma fonte de água fresca”, uma tarefa que era incumbida a mulheres e crianças, tal como a coleta de fruta, enquanto os homens iam caçar.
“É fácil de imaginar que saíram em grandes grupos. Especulamos que tenham sido umas 18 pessoas que, numa questão de horas, se moveram em direcções distintas”, conclui a pesquisadora.
SV, ZAP