Um exoplaneta descoberto pelo telescópio Hubble em 2004 desapareceu por completo – e, a menos que exista algo parecido com a Estrela da Morte destruindo mundos por aí, como no universo Star Wars, isso não deveria acontecer. Astrônomos estão procurando uma explicação plausível para o ocorrido, e um novo estudo sugere que, na verdade, não havia nenhum planeta ali.
Conhecido como Dagon, ou Fomalhaut b, e localizado a 25 anos-luz da Terra, o exoplaneta (nome dado àqueles que orbitam estrelas que não o Sol) era famoso por ter sido um dos primeiros já descobertos em luz visível pelo Hubble. Quando os astrônomos o viram pela primeira vez, o Dagon apareceu como um ponto brilhante e frio se movendo rapidamente pelo céu. Dez anos depois, esse ponto havia desaparecido.
E há outros mistérios que cercam Dagon. Por exemplo, o brilho dele, que permitiu ao Hubble mostrá-lo em luz visível, é muito incomum em exoplanetas. Geralmente esses mundos distantes são pequenos demais para refletirem essa quantidade de luz de sua estrela anfitriã. Além disso, o Fomalhaut b não mostrou assinatura de luz infravermelha, o que significa que estava extremamente frio – outra vez, algo incomum para um planeta.
Uma proposta apontada por um novo estudo é que o objeto poderia ser, na verdade, uma vasta nuvem de poeira em expansão, produzida em uma colisão entre dois grandes corpos que orbitam a estrela Fomalhaut. O artigo foi publicado na última segunda-feira (20) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Essa suposta colisão provavelmente teria ocorrido em um anel gelado de entulho espacial semelhante ao Cinturão de Kuiper, localizado no nosso Sistema Solar. Se este foi o caso, deve ter acontecido pouco antes de o Hubble fotografar o Dagon, quando a nuvem de partículas de poeira ainda estava densamente concentrada e aparente na luz visível. Com o tempo, ela foi se dispersando até desaparecer por completo.
Mas isso não diminuiu a importância do Fomalhaut b. De acordo com Andras Gaspar, principal autor do estudo, essa descoberta pode ser ainda mais empolgante. É que colisões como essa são extremamente raras, e os pesquisadores estão animados com a ideia de que, talvez, tenham visto e fotografado os vestígios recentes de uma delas. “Acreditamos que estávamos no lugar certo e na hora certa para testemunhar um evento tão improvável”, disse Gaspar.
Para o novo estudo, a equipe revisou quase duas décadas de observações arquivadas do Hubble, e viram que o Fomalhaut b estava ficando cada vez mais escuro antes de desaparecer completamente em 2014. Usando modelos de computador, os pesquisadores calcularam que uma colisão entre dois corpos gelados de aproximadamente 200 km de diâmetro poderia ter criado uma nuvem de poeira que correspondesse às observações do Hubble.
Essa hipótese explica os mistérios sobre o brilho e a temperatura do objeto. Se estiver correta, os pesquisadores calculam que essa nuvem de detritos se expandiu tanto que agora tem um diâmetro maior que a órbita da Terra ao redor do Sol. Mas ainda é cedo para encerrar o caso do exoplaneta desaparecido. Os pesquisadores terão que estudar o sistema estelar de Fomalhaut com mais detalhes antes de chegarem a uma conclusão definitiva.
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