Cientistas criaram nanorrobôs que eliminam cirurgicamente tumores, bloqueando a irrigação sanguínea, o que cria a perspectiva de novos tratamentos contra o câncer, revela um estudo publicado na revista Nature Biotechnology.
A técnica, testada em ratinhos com diferentes tipos de câncer, provocou danos no tecido tumoral ao fim de um dia sem afetar os tecidos saudáveis. Os resultados foram publicados na revista Nature Biotechnology na segunda-feira (12).
Para criar os robôs microscópicos, que se dissolvem no organismo depois de 24 horas, uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos e da China recorreu à técnica genética do DNA origami, que permite “dobrar sequências de moléculas de DNA para obter formas bidimensionais e tridimensionais na escala das nanopartículas (partículas ultrafinas, mil vezes menores que um fio de um cabelo).
“Desenvolvemos o primeiro sistema totalmente autônomo de robótica de DNA para desenhar drogas muito precisas e para o tratamento direcionado do câncer”, afirmou um dos autores do estudo, Hao Yan, diretor do Centro de Design Molecular e Biomiméticos do Instituto de Biodesign da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos.
Segundo o cientista, a técnica usada em ratinhos com melanoma (tipo de câncer de pele) não só afetou o tumor primário, mas também impediu a formação de metástases (formação de novos tumores a partir de outros mais distantes), “demonstrando seu potencial terapêutico”.
Em três dos oito ratinhos com melanoma humano, os tumores regrediram totalmente graças à terapia de nanorrobótica de DNA, com o tempo médio de sobrevivência dos roedores mais que duplicando, passando de 20,5 dias para 45.
A mesma técnica foi igualmente testada, com sucesso, em ratinhos com câncer no pulmão: ao fim de duas semanas de tratamento, o tamanho do tecido tumoral recuou.
Em comunicado, a Universidade do Estado do Arizona explica que cada nanorrobô é feito a partir de uma “folha de origami de DNA plana e retangular“. A principal proteína envolvida na coagulação do sangue, a trombina, é ligada à superfície.
A trombina pode bloquear o fluxo de sangue no tumor, ao coagular o sangue nos vasos que alimentam o crescimento do tumor, causando uma espécie de “ataque cardíaco” no tumor, que leva à morte do tecido tumoral.
Ao fim de dois dias de testes havia indícios de trombose avançada nos ratinhos e, passados três dias, foram observados trombos (coágulos de sangue) em todos os vasos sanguíneos dos tumores.
A chave do tratamento, de acordo com os cientistas, é desencadear a produção da proteína trombina apenas quando está no interior dos vasos sanguíneos do tumor.
Os pesquisadores realçam a ausência de efeitos indesejáveis, como os nanorrobôs invadirem o cérebro e causarem um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
A equipe, na qual participaram especialistas do Centro Nacional para a Nanociência e Tecnologia da Academia Chinesa de Ciências, considera que a técnica é segura e eficaz, pelo que pode ser testada em animais maiores do que ratos e em vários tipos de câncer, uma vez que todos os tecidos tumorais têm vasos sanguíneos.
Para Hao Yan, da Universidade do Estado do Arizona, a combinação de diferentes nanorrobôs capazes de transportar vários agentes químicos pode ajudar a “atingir a meta final da pesquisa sobre o câncer: a erradicação de tumores sólidos e metástases vascularizadas”.
Em última análise, a estratégia pode ser utilizada para tratar outras doenças através de uma espécie de envio direcionado de um fármaco para o alvo doente, “modificando a geometria de nanoestruturas”.
Ciberia, Lusa // ZAP