Comer laranja à noite afinal ajuda a adormecer, os cereais são desnecessários numa alimentação saudável e os antioxidantes são prejudiciais para os desportistas, revelam especialistas em nutrição.
O 3º Congresso Europeu de Nutrição Funcional vai reunir em Portugal, nesse sábado, os “maiores especialistas do mundo em nutrição funcional” para partilhar conhecimentos, desmistificar conceitos alimentares errados e alertar para cruciais questões de saúde.
A “nutrição funcional” – considerada a nutrição do século XXI – se foca na detecção e correção dos desequilíbrios nutricionais de cada pessoa, vendo-a como única mas tendo em conta que seu organismo é um todo, consistindo numa abordagem preventiva e de tratamento de problemas crônicos de saúde através da deteção e correção de desequilíbrios bioquímicos que geram as próprias doenças, explicou à agência Lusa o pesquisador português Pedro Bastos, responsável pela organização do congresso.
Em debate vão estar vários temas alimentares, com destaque para alguns que contrariam ideias enraizadas na sociedade, como é o caso do painel subordinado ao tema “afinal devemos comer laranja ao deitar, entre outros alimentos amigos do sono” – que desmente o provérbio “laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata”.
Pedro Bastos explica que, resultando de observações casuais e de informações transmitidas de forma oral, os provérbios populares não são sujeitos a análise rigorosa e científica, o que resulta por vezes em incorreções, como será o caso deste.
“No que diz respeito ao sono, um estudo publicado em 2013 no Journal of Pineal Research demonstrou que a ingestão de laranja aumenta as concentrações de melatonina, a principal hormona responsável pelo sono”, acrescentou.
Cereais são desnecessários
Ainda no que respeita a crenças alimentares, os cereais surgem na base da pirâmide alimentar e são tidos como fundamentais na alimentação, por serem o “combustível” do organismo, estando presentes em quase todas as refeições e em snacks nos intervalos.
Nada mais errado: na verdade, os cereais são absolutamente desnecessários, já que “do ponto de vista puramente nutricional, não existe nada nos cereais que os torne essenciais, pois todos os nutrientes existentes nos mesmos estão presentes em outros alimentos, incluindo fibra, vitaminas e minerais”, sendo que o seu teor em vitaminas e minerais é reduzido e a sua biodisponibilidade (quanto de facto absorvemos e aproveitamos) é baixa, esclareceu o especialista.
Em termos nutricionais, uma alimentação saudável deve recolher os carboidratos dos produtos hortícolas (que simultaneamente têm oito vezes mais fibras que os cereais), frutas (duas vezes mais fibras) e tubérculos.
As consequências de uma alimentação fortemente baseada em cereais, sobretudo os refinados, são risco acrescido de diabetes tipo II, de doença cardiovascular, de progressão de alguns tipos de cancro (mama, próstata e cólon) e de algumas doenças inflamatórias e metabólicas, afirmou Pedro Bastos.
Antioxidantes
Outra “surpresa” desse congresso é que os “suplementos antioxidantes diminuem a eficácia do exercício físico”, ou seja, a prática de exercício físico “induz adaptações que melhoram nossa saúde e resistência a diversas patologias”.
“Uma dessas adaptações consiste na produção endógena de proteínas antioxidantes, que vão nos ‘proteger’ não apenas de futuras sessões de exercício, como de vários outras agressões às quais somos expostos (como cigarro e poluição)”, acrescenta o pesquisador.
O que acontece é que o recurso a suplementos antioxidantes vai diminuir a produção de antioxidantes endógenos e outras adaptações que melhoram a saúde e o rendimento esportivo, explicou, aconselhando antes a ingestão de “quantidades fisiológicas de vitamina C e E através de fruta, produtos hortícolas e oleaginosas”, para garantir “um aporte adequado dos nutrientes necessários para a produção e ação dos antioxidantes que nós mesmos produzimos”.
Além do sono, do exercício físico e da composição corporal, esse ano o congresso vai também destacar a importância da nutrição funcional na gravidez e em complicações na infância, como a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, dando enfoque aos “temas mais relevantes para a sociedade atual: inflamação, intestino e longevidade“.
// ZAP
