É mais difícil largar do cigarro do que da heroína, dizem alguns. Mas pesquisadores da Johns Hopkins relataram que um pequeno número de fumantes de longa data que falharam em muitas tentativas de abandonar o hábito o fizeram depois de um uso cuidadosamente controlado e monitorado de psilocibina, o agente psicodélico ativo nos chamados “cogumelos mágicos”, no contexto de um programa de tratamento de terapia cognitiva comportamental.
A taxa de abstinência para os participantes do estudo foi de 80% após seis meses, substancialmente maior do que as taxas típicas de sucesso nos ensaios de cessação do tabagismo, diz Matthew W. Johnson, Ph.D., professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Johns Hopkins University School of Medicine e autor correspondente no estudo de 2014.
“Na marca de um ano, esse número caiu para 67%, o que ainda é um índice de sucesso mais alto do que o obtido com o melhor tratamento disponível hoje”, disse Matthew.
Aproximadamente 35% experimentam taxas de sucesso de seis meses ao tomar Vareniclina, que é amplamente considerada como a droga de cessação do tabagismo mais eficaz. Outros tratamentos, incluindo substituição de nicotina e terapias comportamentais, têm taxas de sucesso que normalmente são inferiores a 30%, acrescenta Johnson.
Mas os pesquisadores, em um relatório sobre o estudo, publicado online em 11 de setembro no Journal of Psychopharmacology, alertam fortemente que seus resultados de estudo não são um endosso do uso de drogas psicodélicas “faça você mesmo” para a cessação do tabagismo, mas sim específicos para a administração controlada da droga no contexto de um programa de tratamento envolvendo terapia cognitiva comportamental.
“Parar de fumar não é uma reação biológica simples à psilocibina, como com outros medicamentos que afetam diretamente os receptores de nicotina”, diz Johnson. “Quando administrada após uma preparação cuidadosa e em um contexto terapêutico, a psilocibina pode levar a uma profunda reflexão sobre a vida e estimular a mudança.”
Os participantes do estudo foram 10 homens e cinco mulheres, todos mentalmente e fisicamente saudáveis. Eles tinham uma idade média de 51 anos; fumavam, em média, 19 cigarros por dia durante 31 anos; e tinham tentado parar repetidamente sem sucesso.
Dez participantes relataram uso mínimo de psicodélicos passados, sendo que o uso mais recente foi uma média de 27 anos antes da ingestão do estudo. Cinco nunca usaram psicodélicos.
Depois que os pesquisadores informaram os voluntários sobre como poderia ser sua experiência com a droga, a primeira dose de psilocibina foi administrada por pílula no dia em que cada participante planejava parar de fumar. Duas sessões subsequentes, com doses mais altas da droga que altera a mente, foram realizadas duas semanas e oito semanas depois.
Durante cada sessão de psilocibina, que durou de seis a sete horas, os participantes foram acompanhados de perto por dois membros da equipe de pesquisa em um ambiente confortável e caseiro. Na maioria das vezes, os participantes usavam máscaras opacas nos olhos e fones de ouvido com música, e eram encorajados a relaxar e focar em suas experiências internas.
O composto psicodélico foi administrado como parte de um programa abrangente de cessação do tabagismo da terapia cognitiva comportamental que incluía sessões semanais de aconselhamento individual e técnicas como manter um diário antes de parar para avaliar quando e por que os desejos por cigarro ocorrem.
Como foi a viagem de alguns dos voluntários
“Alice O’Donnell, uma editora de livros com cerca de 60 anos nascida na Irlanda, deleitou-se com “a liberdade de ir a qualquer lugar” durante sua viagem. Ela viu penas surgirem em seu corpo, o que lhe permitiu viajar no tempo para várias cenas da história da Europa, morreu três vezes, observou sua “alma deixar o corpo numa pira funerária flutuando sobre o Ganges” e se viu “em pé sobre o limite do universo, testemunhando o amanhecer da criação”. Ela “humildemente” percebeu que “tudo no universo tem igual importância, inclusive eu mesma”
“Viajar por esse pequeno túnel da vida adulta me tirou daquela perspectiva estreita e me devolveu uma visão mais abrangente e cheia de maravilhamento, típica das crianças — me devolveu ao mundo de Wordsworth. Uma parte do meu cérebro que tinha ido dormir acordou. O universo era tão grande e havia tantas coisas para fazer e para ver que a ideia de se matar pareceu tola. Isso colocou o cigarro numa perspectiva completamente nova. Fumar pareceu não ter a menor importância; pareceu meio estúpido, para ser honesta.”
Ela deixou sua viagem com a convicção “de que devia cuidar da respiração”. E não fumou mais desde a experiência com a psilocibina. Quando sente vontade, ela volta a pensar na sessão “e em todas as coisas maravilhosas que experimentei, e como me senti em um plano muito mais elevado”.
“Fui parte de algo muito maior que qualquer coisa que jamais imaginei”, disse Charles Bessant, na casa dos 60 anos. “Foi diante dessa imensidão que fumar pareceu, de uma hora para outra, algo lamentavelmente pequeno. “Por que parar de fumar? Porque descobri que é irrelevante. Porque outras coisas se tornaram muito mais importantes.”
Os pesquisadores, que fazem parte de uma equipe que há muito tempo tem financiamento federal dos EUA para estudar os efeitos psicoativos das drogas psicodélicas, sugerem que a psilocibina pode ajudar a quebrar o padrão viciante de pensamentos e comportamentos que se tornaram arraigados após anos de tabagismo. Os benefícios também parecem durar depois que os efeitos droga passaram.
// HypeScience