Com 96,06% das urnas apuradas, está confirmado o segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
Jair Bolsonaro tem 46,66% dos votos válidos e não tem mais chance matemáticas de fechar com mais de 50% dos votos. Fernando Haddad (PT) está com 28,43%. Os dois voltam a se enfrentar no dia 28 de outubro.
A polarização entre as candidaturas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), prevista em levantamentos de intenção de voto de diferentes institutos de opinião durante a campanha eleitoral, agravou as dificuldades de candidaturas que se posicionavam ao centro.
“O caminho do meio se esvaziou. Essa eleição esvaziou o centro”, analisa o cientista político Joviniano Neto, professor da Universidade Federal da Bahia.
A apuração mostrou, com 96% dos votos apurados, que Geraldo Alckmin (PSDB) tem 4,8% dos votos e Marina Silva (Rede) tem 1%, ficando abaixo de Cabo Daciolo (Patriota). Os dois nomes, que já se candidataram em outras campanhas presidenciais e ocuparam postos de relevância, não conseguiram projeção nesta eleição.
Na avaliação de Joviniano Neto, Marina Silva “perdeu intenção de votos quando Fernando Haddad foi indicado do PT”. Também pesou contra a candidata da Rede a falta de estrutura partidária e a “imagem de fraqueza física que Marina passa”.
Para Rui Melo, psicólogo especialista em pesquisas de grupo focal, “Marina sempre teve imagem de frágil”. Nesta campanha, “ela adotou um discurso pouco degustável. As pessoas não sabiam o que ela estava propondo”.
Segundo o especialista, a dificuldade de compreensão também prejudicou Alckmin, “que fez uma pesquisa muito focada no marketing político, num momento em que a campanha foi movida pela cobertura jornalística”.
De acordo com Joviano Neto, o mau desempenho de Alckmin fragiliza o PSDB e deve repercutir no comando do partido, a depender do 2º turno na disputa pelo governo de São Paulo.
Para o especialista, há risco do PSDB, assim como as legendas que formam o centrão, “tornar-se caldatário de um partido que Bolsonaro possa formar com parlamentares ligados às igrejas evangélicas, à indústria armamentista e ao agronegócio”.
Entre vítimas
José Álvaro Moisés, diretor do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), aponta que “houve uma onda conservadora nessas eleições“, que os eleitores votaram em “ambiente de indignação” e que as candidaturas de centro “não conseguiram se apresentar como alternativa para sair da política tradicional”.
Na opinião de Moisés, a campanha transcorreu entre o discurso de vitimização de Lula, “como fosse perseguido pela política”, e a situação de vitimização de Jair Bolsonaro que sofreu um ataque a faca em agosto ao participar de ato de campanha.
Para caminhar para o centro, o cientista político espera que no 2º turno, Fernando Haddad e Jair Bolsonaro expliquem melhor, e “em detalhe”, suas propostas e aspectos que desdobram dos posicionamentos políticos. “É preciso que Bolsonaro explique falas antidemocráticas e que Fernando Haddad explique o envolvimento do PT com a corrupção”.