Leonid Rink não considera convincente a evidência apresentada pela Alemanha sobre o alegado uso do Novichok contra o opositor russo, pois, se isso tivesse acontecido, os efeitos teriam sido diferentes.
Podem ter sido encontrados vestígios de exposição a tóxicos nos níveis de colinesterase no opositor Aleksei Navalny depois que os médicos de Omsk usaram drogas que são injetadas durante coma induzido, disse Leonid Rink, o desenvolvedor do agente nervoso Novichok.
“Em um coma induzido, a primeira ação dos médicos, e pode ver isso facilmente na Wikipédia, é a introdução de colinomiméticos ou colinolíticos. Por isso, quando dizem que algo teve um efeito sobre a colinesterase, bem, pessoal, foram os médicos que o fizeram, não é preciso inventar nada. Essa é a primeira coisa que os médicos de Omsk fizeram”, disse Rink à Sputnik.
Ao mesmo tempo, ele apontou que as toxinas fosforadas como as do Novichok, bem como os agentes nervosos não fosforados, também afetam os níveis da enzima colinesterase.
Mas, segundo o autor do Novichok, a suspeita de envenenamento por um grupo de inibidores da colinesterase não significa que esse agente nervoso tenha sido usado especificamente.
“[…] Por alguma razão, estes efeitos não apareceram em Omsk, embora a pessoa estivesse alegadamente com um envenenamento recente, mas duas semanas depois, esse efeito foi encontrado em outro lugar qualquer. Não parece estranho para qualquer pessoa sensata?”, observou Rink.
As fotos de Aleksei Navalny tiradas depois do suposto envenenamento refutam a teoria do uso do agente neurotóxico Novichok, devido à ausência de contração pupilar e espasmos musculares, os sintomas principais de tal envenenamento, relatou.
“São convulsionantes que, devido à interrupção do impulso nervoso, causam cãibras musculares, especialmente nos olhos”, conta.
“Ou seja, os músculos dos olhos mostram contração da pupila, ela se torna quase imperceptível mesmo com doses muito baixas do Novichok, quando praticamente ainda não há envenenamento. Este sintoma é imediatamente visível.”
Em seguida, o especialista analisou as imagens do opositor tiradas em diversos momentos.
“Segundo as fotografias de Navalny tiradas antes de embarcar no avião, no avião, depois do avião, no hospital, a caminho do segundo avião que o levou para a Alemanha, este não é o caso. Afinal, onde está a miose? Somos profissionais e sabemos que não podemos passar sem ela”, questionou Leonid Rink.
Na semana passada, na conta oficial de Navalny no Instagram surgiu uma publicação de que teria sido encontrado Novichok nas garrafas de seu quarto de hotel em Tomsk. Rink chamou isso de bobagem, pois, se a substância tivesse sido utilizada no hotel, isso teria levado não só à morte do político, mas também de qualquer pessoa que tivesse tocado na garrafa.
Navalny foi hospitalizado em Omsk no dia 20 de agosto depois de se sentir mal em um voo da cidade siberiana de Tomsk para Moscou, acabando por perder os sentidos. Após uma aterrissagem de emergência, os médicos de Omsk diagnosticaram distúrbio metabólico, que causou uma mudança brusca no açúcar no sangue. Ainda não está clara a causa do que aconteceu, mas, de acordo com os médicos, não foi encontrado veneno no sangue e na urina do ativista.
Dois dias depois, Aleksei Navalny foi levado de avião para o Hospital Universitário Charité em Berlim, Alemanha, em estado grave. Os médicos locais estabeleceram o diagnóstico preliminar de intoxicação com uma substância do grupo de inibidores da colinesterase.
No entanto, Boris Teplykh, diretor do departamento de anestesiologia e reanimação do Centro Nacional de Cirurgia Pirogov, disse à Sputnik que a versão dos médicos alemães foi estudada por especialistas russos logo no primeiro dia e que estes a refutaram. Depois disso, o governo alemão afirmou, citando médicos militares, que o opositor foi supostamente envenenado com Novichok, uma substância do grupo de agentes nervosos.
O Hospital Charité em Berlim informou na terça-feira (22) que Navalny teve alta hospitalar em estado satisfatório e que os médicos que o tratam não descartam sua recuperação completa.
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