Ao invés de enviar crianças ansiosas para terapia, são os pais que vão

O primeiro ataque de ansiedade do pequeno norte-americano Joseph Calise aconteceu quando ele tinha oito anos e se preparava para tocar um instrumento musical em uma apresentação da escola.

Ele começou a sentir dor de barriga e ânsia, e ele e sua mãe, Jessica, acabaram passando a apresentação toda no banheiro.

A partir daquele dia, Joseph não conseguia mais ficar sozinho. Até para tomar banho e dormir ele precisava que um dos pais estivesse por perto. Ele implorava que um deles se sentasse do outro lado da porta do banheiro enquanto ele tomava banho, e pedia para dormir na cama dos pais.

Sem saber o que fazer, os pais acabaram o acomodando, fazendo o que ele pedia, na esperança de deixá-lo seguro e confortável. Mas o resultado foi que o menino se sentia cada vez mais depende dos pais, e a ansiedade não passava.

Foi aí que Jessica se inscreveu em um programa experimental da Universidade de Yale para pais com crianças ansiosas. Não era Joseph quem iria se encontrar com um terapeuta toda semana, mas sim os pais.

No programa de doze semanas, os pais aprenderam a ter uma reação aos ataques de ansiedade do filho que o deixassem seguro, mas de forma que ele enfrentasse seus medos sozinhos. A base deste treinamento é semelhante à terapia tradicional, mas tem um ângulo diferente.

Ao invés de sentar na porta do banheiro enquanto ele tomava banho, eles diziam que iam voltar em cinco minutos para ver se estava tudo bem, e o deixavam sozinho pelo tempo combinado.

Eles diziam “Uau, você é incrível. Você estava ansioso e assustado, mas você conseguiu, você pode fazer isso”, relata a mãe. No início nenhuma mudança parecia estar acontecendo no filho, mas na metade do programa ele começou a sentir-se melhor mesmo quando estava sozinho.

Aos poucos Joseph começou a passar cada vez mais tempo sozinho, até que voltou a conseguir dormir sem os pais. “Ele começou a ficar mais confiante. Ele fazia as coisas sozinho sem que nós tivéssemos que pedir”, conta a mãe.

A ótima notícia é que 70% das crianças cujos pais participaram do treinamento mostraram melhora radical dos sintomas de ansiedade. Isso tudo sem levar as crianças uma única vez ao consultório do terapeuta.

Os resultados foram parecidos com crianças que passaram por 12 sessões de terapia convencional. Este treinamento dos pais parece funcionar porque permite que as crianças enfrentem suas ansiedades ao mesmo tempo em que recebem apoio e amor dos pais.

Quando os pais fazem tudo o que a criança pede por desespero, a criança fica ainda mais insegura por acreditar que a situação é ainda pior do que ela pensava, e que ela não tem capacidade de resolver o problema sozinha.

Joseph conta que não sente mais medo de ficar sozinho, apesar de ainda não gostar muito disso. Mesmo assim, ele voltou a ser independente de seus pais para realizar as tarefas do dia a dia. “Se eu tenho um pesadelo, eu mudo o assunto para alguma coisa feliz. Aí eu fico bem”, diz ele.

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