Lançamento de criptomoeda venezuelana gera a maior desvalorização da história

jeso.carneiro / Flickr

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro

O lançamento da Petro, a criptomoeda venezuelana e primeiro câmbio do tipo a ser adotado oficialmente por um país, vem sendo vendida como a solução para os problemas econômicos e a hiperinflação que assola nosso vizinho.

Entretanto, o que se viu no começo desta nova história foi uma das maiores desvalorizações de moeda da história, com uma queda de 95% registrada no último final de semana.

O prognóstico é dos mais sombrios. Para o FMI, a inflação, que já tinha previsão de bater os 1.000.000% neste ano, deve crescer ainda mais, enquanto, atualmente, os preços são revistos a uma taxa de 108.000%.

Carrinhos de dinheiro são usados pela população para comprar pão, isso quando há produtos nos mercados e as pessoas efetivamente possuem o dinheiro para adquiri-los. Na maioria do tempo, a situação é de penúria, miséria e êxodo, com muitos venezuelanos, inclusive, escolhendo o Brasil como o local de reconstrução de suas vidas.

É nesse ensejo que o presidente Nicolás Maduro lançou a Petro, sua criptomoeda oficial. O novo dinheiro passou a valer nesta segunda (20) como um dos dois novos câmbios oficiais da Venezuela, ao lado do bolívar soberano, que terá relação direta com os valores do dinheiro digital.

Por sua vez, a criptomoeda terá cotação ancorada a 5,3 bilhões de barris de petróleo, atualmente o principal produto de exportação do país.

A ideia é que a força de uma de suas maiores matérias-primas ajude a Venezuela a sair da crise. A Petro se torna a unidade contábil obrigatória para a maior empresa estatal do país, a Petróleos da Venezuela (PDVSA), e também deve ser usada para facilitar negociações internacionais e burlar sanções impostas por outros países, apontados por Maduro como um dos principais causadores da atual crise econômica.

Além da criptomoeda, entra em vigor o bolívar soberano, que corta cinco zeros do dinheiro atual, o bolívar forte. O governo também criou uma nova política de pagamentos e incentivos ao comércio e a indústria como forma de compensar o choque causado pelas mudanças e, principalmente, pela desvalorização vista durante o último final de semana.

O salário mínimo, por exemplo, terá um aumento de 3.500%, chegando à marca dos US$ 30, ou cerca de R$ 120 em uma conversão arredondada para cima.

Nesta segunda, foi decretado feriado na Venezuela, o que fez com que lojas e supermercados fechassem as portas no aguardo das medidas de precificação do governo.

Os bancos também estavam fechados, mas seus funcionários trabalhavam em sistemas de conversão e adaptação para que caixas eletrônicos e plataformas online pudessem começar esta terça-feira (21) funcionando.

O clima, de acordo com os relatos da imprensa, era de tensão e expectativa, principalmente entre a população mais pobre que temia ver suas poucas reservas ainda mais reduzidas por conta das medidas.

A situação do lançamento da Petro, entretanto, pouco se assemelha ao otimismo demonstrado pelo governo em fevereiro, quando abriu a pré-venda da criptomoeda.

Na ocasião, a expectativa era de sucesso, com o anúncio de mais de US$ 735 milhões arrecadados apenas nos primeiros três dias de pré-venda. Serão 100 milhões de ativos ao todo, cujo dinheiro será utilizado na recuperação econômica do país.

Outras medidas de recuperação incluem o fim de subsídios governamentais sobre o combustível e a suspensão no pagamento da dívida externa.

Além disso, Caracas deve permitir a realização de leilões de moeda estrangeira nos cinco dias da semana, ao contrário da atual limitação de três, e vai aumentar os impostos em 4%. A ideia é usar os bilhões de dólares economizados e arrecadados para novas injeções na economia e garantia de direitos para trabalhadores.

Em pronunciamento relacionado ao lançamento da nova moeda, Maduro disse que o novo pacote econômico da Venezuela não tem qualquer relação com o FMI, responsável pelas previsões desastrosas para o futuro do país.

“Sexta-feira negra”

Maduro também rebateu as críticas de economistas e especialistas, afirmando que suas mudanças possuem distorções em relação a alterações clássicas de forma a lidar com a profunda crise e, também, recolocar a Venezuela no caminho do desenvolvimento.

O presidente ainda dispensou as comparações de seu pronunciamento com o da “sexta-feira negra”. Em 1984, numa noite antes do fim de semana, o então presidente Luis Herrera Campins desvalorizou o bolívar pela primeira vez em 22 anos, repercutindo uma grande crise do petróleo.

Foram cinco anos de recessão que terminaram em uma revolta que ficou conhecida como Caracazo, que resultou na morte de centenas de pessoas quando a inflação ultrapassou a marca dos 21% em apenas um mês. Maduro foi um dos líderes desta revolução e considera os atos um ponto importante em seu caminho para o poder.

Ciberia // CanalTech

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