Dez anos depois, Haiti ainda não superou trauma de terremoto

O Haiti lembra neste domingo o terremoto de magnitude 7 na escala de Richter que devastou a região da capital Porto Príncipe e a cidade de Jacmel, no sul do país em 12 de janeiro de 2010. Mais de 200 mil pessoas morreram, 300 mil ficaram feridas e mais de 1,3 milhão desabrigadas.

A catástrofe ainda traumatiza o país. A reconstrução ainda é incompleta, a má gestão pós-terremoto trouxe consequências humanitárias terríveis e a instabilidade política constante complica a vida dos haitianos. A RFI enviou jornalistas ao Haiti para fazer um balanço da situação no país, dez anos após o terremoto. Com o caos que tomou conta do país no período, nem todas as vítimas foram enterradas respeitando o rito tradicional haitiano.

“Estes mortos continuam assombrando a lembrança dos sobreviventes”, constata a enviada especial ao país, Stefanie Schüler.

O governo construiu um monumento a 15 km de Porto Príncipe em memória das vítimas do terremoto e onde repousam corpos não identificados. Apesar disso, o trabalho de memória coletiva para superar o trauma parece difícil e milhares de haitianos choram ainda seus familiares mortos, cujos corpos nunca foram encontrados, escreve Schüler, que entrevistou várias pessoas.

A correspondente Sachenka Thomas lembra que o risco de novos terremotos é elevado no país. Ela informa que a população tem consciência desta ameaça. Mas apesar de uma campanha de informação, muitos haitianos ignoram ainda a atitude correta a adotar em caso de sismo que pode salvar muitas vidas.

“Continuamos tão vulneráveis quanto há dez anos”, lamenta em entrevista à RFI a escritora Kettly Mars. Os dois últimos romances da autora “Je suis vivant” (Estou vivo) e “Aux frontières de la soif (No limite da sede), foram inspirados na catástrofe que mudou a história do país.

Infraestrutura precária

Além das vítimas, o terremoto destruiu 60% da infraestrutura sanitária do Haiti, que já era insuficiente. Uma década depois, o sistema de saúde haitiano continua precário, segundo a chefe da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) no país, Sandra Lamarque.

“Ainda há uma carência enorme de produtos básicos, problemas nos centros de saúde, falta de ambulâncias e estrutura hospitalar. Algumas estruturas foram construídas ou reconstruídas. Infelizmente, em muitas delas, as obras ainda não terminaram. Em outros casos, a estrutura está pronta, mas ainda não é totalmente operacional, por falta de recursos humanos ou financeiros, não sei”, explicou Lamarque à jornalista Amélie Baron.

Segundo a chefe da MSF no Haiti, mesmo os centros operacionais enfrentam problemas. “A crise política, securitária e econômica atual cria ainda mais dificuldades para as estruturas que são operacionais. Lamentamos que algumas estruturas privadas tiveram que ser fechadas ou diminuíram o número de funcionários. Muitos centros de saúde têm falta de pessoal e de sangue, o problema número 1. E também falta interesse”.

Década perdida

Em 12 de janeiro de 2010, o forte terremoto durou cerca de 35 segundos e transformou a capital, Porto Príncipe, e as cidades vizinhas de Gressier, Leogane e Jacmel em ruínas. A catástrofe deixou as autoridades da ilha, um dos países mais pobres do mundo, e a comunidade humanitária internacional diante de um desafio colossal de reconstrução, que ficou muito aquém do prometido e do necessário.

O economista haitiano Kesner Pharel avalia que esta foi uma década perdida, não só por culpa do governo local, mas também de autoridades internacionais. “A capital não foi reconstruída, mas nossa má governança não é de responsabilidade exclusiva das autoridades locais. Em nível internacional, não vimos um mecanismo para administrar a ajuda que permitisse ao país se beneficiar”, declarou.

Os bilhões de dólares prometidos pelos doadores internacionais nas semanas após a catástrofe parecem ter desaparecido, alimentando a amargura dos sobreviventes que hoje estão expostos aos mesmos perigos que existiam antes do terremoto.

Crise política

O Haiti também é afetado por uma grave crise sociopolítica. No verão de 2018, os escândalos de corrupção envolvendo todos os governos pós-terremoto e o atual presidente Jovenel Moise provocaram uma onda de protestos, liderada principalmente por jovens. As manifestações antigovernamentais se espalharam pelas cidades em todo o território, paralisando a vida cotidiana entre setembro e dezembro do ano passado.

Em consequência, as eleições legislativas para renovar a Assembleia Nacional previstas para novembro de 2019 simplesmente não aconteceram. Isso significa que os atuais deputados, cujo mandato expira nesta segunda-feira (13), não serão substituídos.

Sem um Parlamento em funcionamento, o presidente Moise, que é criticado tanto por seus opositores quanto por grande parte da população civil, terá a possibilidade de governar por decreto.

// RFI

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