A socialite Donata Meirelles não é mais diretora de estilo da revista Vogue Brasil, publicada pela Globo Condé-Nast. Ela pediu demissão após uma festa racista de aniversário, em Salvador, em que ela comemorou 50 anos.
Este tem sido um dos assuntos mais comentados nas últimas semanas. Como bem aponta Kauê Vieira, jornalista da equipe do Hypeness, as fotos da festa não ficaram ótimas. “São tantos os signos presentes na fotografia, que fica difícil crer na abolição concreta da escravidão”, escreveu.
Donata Meirelles, que esteve no posto por sete anos, apareceu em várias fotos sentada em uma cadeira, acompanhada por mulheres negras ao seu redor, vestindo os trajes tradicionais de baianas do acarajé, enquanto ela usava um vestido de grife. Segundo a socialite, a intenção não foi ser racista, mas homenagear a cultura do Candomblé.
“O caso de Donata revela certo fetiche de parte da chamada elite brasileira de ‘brincar’ com elementos da cultura negra. Como se a negritude estivesse à venda ao lado de uma bolsa de grife”, analisa Vieira no Hypeness.
A festa em questão aconteceu na última sexta-feira (8), no Palácio de Aclamação, em um jantar luxuoso cuja decoração evoca o período escravocrata e colonial do Brasil.
A repercussão foi tão intensa que chegou a ser internacional: Shelby Ivey Christie, diretora de marketing da L’Óreal e ex-executiva de vendas da Vogue dos Estados Unidos, usou o Twitter para chamar de “nojento” o tema da festa de Meirelles.
Segundo a colunista social do Estadão, Sônia Racy, a ex-diretora da Vogue comunicou amigos a demissão, “com tristeza no coração, mas com coragem e cabeça erguida”,na última segunda (11). De acordo com o HuffPost Brasil, a Globo Condé-Nast deve anunciar a demissão internamente ainda nesta quinta (14).
“Com tristeza no coração, mas com a coragem e a cabeça erguida que sempre pautaram a minha vida, inicio um novo ciclo e peço demissão da Vogue Brasil, uma publicação que ajudei a construir”, escreveu no comunicado, como mostra o UOL.
“Te amo Vogue, te amo desde jovenzinha. Conte comigo para que você continue fazendo a diferença no mercado editorial e de moda, defendendo e promovendo todas as belezas humanas, como eu continuarei a defender.”
No Instagram, ela afirmou: “aos 50 anos, a hora é de ação. Ouvi muito, preciso ouvir ainda mais. Quero agir em conjunto com as mulheres que têm a me ensinar e com quem mais estiver disposto a ser elo em uma transformação que se faz necessária”.
A Vogue, por sua vez, também se posicionou, afirmando que “lamenta profundamente o ocorrido e espera que o debate gerado sirva de aprendizado”.
“Nós acreditamos em ações afirmativas e propositivas e também que a empatia é a melhor alternativa para a construção de uma sociedade mais justa, em que as desigualdades históricas do País sejam debatidas e enfrentadas”, comunicou.
Além disso, a revista oficializou a criação de um “fórum permanente” de ativista e estudiosos para dar suporte à Vogue em “conteúdos e imagens que combatam essas desigualdades”.
O tradicional baile de carnaval da revista deste ano acontecerá, após boatos circularem na internet sugerindo o contrário.
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