Um canal australiano conta a história que considera ser “uma das maiores falhas de segurança nacional” do país. Centenas de documentos secretos do Estado foram encontrados em uma loja de artigos de segunda mão, no interior de um armário trancado. O governo já pediu uma “investigação urgente”.
Pouco depois de a ABC (Australian Broadcasting Corp) ter revelado a história, nesta quarta-feira (31), o secretário do gabinete do primeiro-ministro ordenou uma investigação urgente para apurar com os documentos secretos foram parar nesta loja, que fica em Camberra, a cerca de 300 quilômetros de Sidney.
Segundo o Público, o conteúdo dos The Cabinet Files (como ficaram conhecidos os documentos) denuncia várias falhas de segurança ao longo de vários governos australianos, como os de Tony Abbott e Kevin Rudd.
As páginas colocam em xeque dez anos de governo, e tratam de assuntos da responsabilidade de cinco executivos australianos, denunciando falhas de segurança interna e externa.
Os jornalistas da ABC descrevem a falha como “alarmante e reveladora”, porém, destaca que não se tratou de um “vazamento de informação“, falando em preocupações quanto à segurança do país.
Quando um novo governo toma posse na Austrália, é habitual vender a mobília do executivo anterior a lojas de artigos de segunda mão. Os documentos foram transportados para a loja no interior de um armário que teria sido comprado. Desse armário fazia parte um arquivo, cujas gavetas se mantiveram fechadas durante meses.
O armário acabou sendo comprado e arrombado e foi então que o conteúdo dos documentos foi enviado para o canal australiano, conta o Público.
As revelações dos The Cabinet Files
Uma das revelações que consta nos The Cabinet Files tem a ver com a perda de cerca de 400 arquivos de segurança nacional entre 2008 e 2013, pela Polícia Federal australiana. Uma troca de e-mails denuncia que os documentos foram perdidos na época em que o Partido Trabalhista australiano estava no poder.
Embora o conteúdo não tenha sido revelado, a ABC destaca que os temas mais sensíveis nesse período diziam respeito ao número de militares no Afeganistão e no Iraque, a antiterrorismo e à proteção das fronteiras australianas.
Em 2013, a ministra Penny Wong deixou no seu gabinete cerca de 200 arquivos altamente secretos que continham detalhes de planos para proteger os Emirados Árabes Unidos do Irã, atualizações sobre a guerra no Afeganistão e perfis suspeitos de terrorismo.
Além disso, são reveladas também informações e decisões políticas dos anteriores governos. Entre elas, o fato de o ex-primeiro-ministro trabalhista australiano Kevin Rudd ter sido avisado quanto aos sérios riscos em relação à segurança de um programa governamental de eficiência energética no isolamento doméstico.
O programa, suspenso em 2010, acabou provocando a morte de quatro funcionários responsáveis pela instalação, vítimas de choque elétrico e hipotermia.
Consta ainda que o governo de Tony Abbott estudou a possibilidade de negar apoio social a menores de 30 anos e que Scott Morrison tentou atrasar a entrega de vistos permanentes a refugiados, em 2013.
O governo ainda não prestou declarações. “Dado que a investigação está em curso, não é adequado comentarmos mais neste momento”, lê-se em comunicado.
Antigo primeiro-ministro processa ABC
Kevin Rudd vai entrar com um processo contra o canal australiano pelas revelações do conteúdo de centenas de documentos secretos do Estado. O ex-líder federal do Partido Trabalhista acusa o canal de estar “mentindo”, destaca o Público.
De acordo com a ABC, Rudd foi avisado quanto aos “sérios riscos” de segurança de um programa governamental de eficiência energética no isolamento doméstico. No entanto, o ex-governante afirmou que a aplicação do programa teria sido adiada caso tivesse sido avisado sobre os riscos de segurança.
“Até fevereiro de 2010, todos os relatórios mensais garantiam que estava tudo bem com o programa governamental de eficiência energética”, afirmava Rudd há quatro anos, segundo a ABC.
Nesta quarta-feira (31), o antigo primeiro-ministro australiano afirmou que o conteúdo citado pelo canal televisivo era falso. Em comunicado, o político nega ter conhecimento sobre os riscos.
“Qualquer afirmação de que Rudd foi avisado sobre os riscos de segurança para os funcionários responsáveis pela instalação das estruturas – ou que não atuou perante tais avisos – não tem qualquer fundamento e é falsa“, refere o comunicado enviado pelo seu representante legal.
Ciberia // ZAP