O escorbuto, doença associada aos marinheiros da época dos Descobrimentos, não desapareceu por completo e continua a fazer vítimas em países desenvolvidos como os EUA e a Austrália.
Nos dias atuais, é difícil associar desnutrição a um país rico, desenvolvido e com altos índices de obesidade como os Estados Unidos. No entanto, a verdade é que uma das doenças mais mortais do século XVIII tem retornado à nação (que desperdiça um quarto da sua comida por ano).
O escorbuto, uma doença simples de tratar e que é causada pela falta de vitamina C, que pode ser encontrada em muitos tipos de frutas e legumes.
A doença ficou amplamente ligada à época dos Descobrimentos, quando os marinheiros, que passavam meses no mar com uma dieta pouco variada e escassa, começavam a ficar com sintomas como perda de dentes e sangue nas gengivas. Depois, surgiam as dores nas articulações e feridas que não cicatrizavam. Em três meses sem ingerir vitamina C, muitos deles morreram.
A falta dessa vitamina aumenta os riscos de hemorragias, infecções e ataques cardíacos. O tratamento para o escorbuto foi descoberto em 1747 e passa simplesmente por ingerir pequenas quantidades de vitamina C todos os dias.
Mas, pelo visto, a doença ainda não desapareceu por completo e uma das suas vítimas foi precisamente Sonny Lopez, norte-americano de Springfield, Massachusetts, que foi pedir aconselhamento médico a Eric Churchill quando começou a sentir os mesmos sintomas que os marinheiros do século XV.
Segundo o médico, não foi o primeiro paciente que apareceu no consultório com a deficiência vitamínica. “Diagnostiquei o primeiro caso há cerca de cinco ou seis anos. Foi muito dramático porque se tratava de alguém com uma doença mental que só comia pão e queijo”, explicou o especialista, citado pelo Science Alert. “Até agora, já diagnosticamos entre 20 e 30 pessoas com escorbuto”, acrescenta.
Churchill e sua equipe do Baystate High Street Health Centre começaram a questionar os pacientes sobre seus hábitos alimentares e, atualmente, fazem um estudo sobre o escorbuto em ambiente urbano.
Lopez, que não tem muitas condições financeiras e passou vários anos comendo apenas uma refeição por dia, optava por comidas mais calóricas para tentar controlar a fome. A receita que recebeu do médico foi “comer uma laranja por dia”.
“Muitas pessoas que passam dificuldades para comprar comida acabam por escolher alimentos ricos em gordura, com muitas calorias e que enchem. São as comidas que nos enchem e nos satisfazem mais do que frutas e verduras”, aponta o médico.
Porém, muitos dos pacientes de Churchill têm peso a mais ou são obesos, mostrando que comer excessivamente não é sinônimo de ingerir todas as vitaminas necessárias.
Além disso, de acordo com o mesmo site, os casos de escorbuto não acontecem apenas nos EUA. Em 2016, um relatório desenvolvido na Austrália indicou que havia uma incidência assustadora de casos entre pacientes diabéticos.
“Quando perguntei sobre a alimentação, uma pessoa disse que comia pouca ou quase nenhuma quantidade de fruta e legumes, enquanto outros comiam esses alimentos mas os cozinhavam de forma excessiva. Isso destrói a vitamina C”, explica Jenny Gunton, médica cientista do Westmead Institute for Medical Research à ABC.
Churchill concluiu no seu estudo que pessoas mais pobres sofrem mais com a doença.
“A pobreza no mundo afeta as pessoas de muitas formas – da exposição à violência à falta de voz e oportunidade, passando pelo acesso limitado à comida saudável e atendimento médico”, diz, considerando que esse tipo de doença não deveria existir em países desenvolvidos.
Ciberia // HypeScience / ZAP