O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, inicia nesta segunda-feira(8) uma rodada final de consultas para formar um governo na Itália, que entra em sua terceira semana de crise política após a demissão do governo de Giuseppe Conte. Antes do fim da semana, Draghi precisa obter uma maioria no parlamento para ser empossado como primeiro-ministro.
O possível apoio da Liga, o eurocético partido de Matteo Salvini, extrema-direita, a Draghi, complica a formação de uma coalizão. A Liga mantém relações tensas com o Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema antes de chegar ao poder) e o Partido Democrático (PD, centro-esquerda), as outras legendas que devem se aliar ao novo governo.
Na semana passada, o presidente Sergio Mattarella, mediador da crise política, pediu a Draghi a formação de um governo de unidade nacional capaz de enfrentar a crise econômica e de saúde causada pela pandemia, que afundou o país em sua pior recessão desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Draghi se reúne nesta segunda-feira com os pequenos partidos e na terça-feira com o M5S, o PD e a Liga. O M5S anunciou em seu blog que faria uma consulta online na quarta e quinta-feira para que seus militantes pudessem dar sua opinião sobre um “possível apoio a um governo liderado por Mario Draghi”.
Ele espera reunir partidos nos extremos do tabuleiro político em um governo de transição responsável por aplicar o plano de recuperação econômica e organizar a campanha de vacinação contra a covid-19.
Draghi já tem o apoio de pequenos partidos e bancadas parlamentares, além do Partido Democrata (PD, centro-esquerda) e do Itália Viva, formação de centro que provocou a implosão do governo Conte por uma divergência sobre o plano de recuperação econômica.
O partido do empresário e ex-chefe de Governo Silvio Berlusconi, Força Itália, também comprometeu a apoiar Draghi. Salvini, estendeu neste sábado a mão ao ex-presidente do BCE. “Estamos à disposição. Somos a maior força política do país, temos uma força que deve governar (…) Ao contrário dos outros, não acreditamos que é possível avançar afirmando sempre não”, declarou Salvini após um encontro com Draghi. “Prefiro estar dentro e controlar o que o Executivo aplica”, explicou.
Desafio
Draghi também se reunirá na segunda-feira com as “forças sociais” – sindicatos, associações, organizações profissionais. A Itália espera receber a maior parte – quase 200 bilhões de euros (240 bilhões de dólares) do fundo de recuperação europeu aprovado em julho, mas deve apresentar um plano de gastos a Bruxelas até o fim de abril.
A terceira maior economia da zona do euro está em crise, devastada pelos efeitos catastróficos da pandemia. A península sofreu em 2020 uma das quedas mais expressivas do PIB na UE, com um retrocesso de 8,9%. O governo italiano, o país europeu mais atingido pela pandemia, adotou um confinamento rígido em março e abril, o que paralisou grande parte das atividades econômicas.
Se Draghi não conseguir a maioria parlamentar ou não conquistar a confiança do Parlamento, o país pode ter eleições legislativas antecipadas. O presidente Mattarella, o único que pode convocar eleições antes do fim da legislatura, em 2023, já ressaltou que deseja evitar eleições antecipadas em plena crise sanitária e econômica.
// RFI