Após dois anos de buscas fracassadas por trem carregado de ouro que estaria escondido em túnel na Polônia desde o fim da Segunda Guerra, equipe perde um de seus membros. “Não quero mais fazer nada de estúpido”, diz.
A história parecia boa demais para ser verdade. Em agosto de 2016, uma dupla de historiadores amadores e autoproclamados caçadores de tesouros anunciou ter evidências de um trem carregado de ouro em um sistema de túneis secretos na Polônia.
A composição, que pertencia às Forças Armadas do regime nazista, teria desaparecido no fim da Segunda Guerra Mundial. O regime nazista teria ocultado o trem na tentativa de preservar a preciosa carga da aproximação do Exército Vermelho soviético.
Prontamente, a dupla exigiu que o governo polonês garantisse que eles receberiam pelo menos 10% do valor recuperado. A “descoberta” era, segundo eles, apoiada em buscas feitas com um radar de penetração no solo.
A história rapidamente foi divulgada por jornais do mundo todo. A dupla, formada pelo polonês Piotr Koper e o alemão Andreas Richter, passou logo depois a comandar escavações na região onde estaria o tesouro, uma cadeia de montanhas ao sul de Wroclaw, cidade que até 1945 fez parte da Alemanha com o nome de Breslau.
O governo polonês se deixou levar pela história. Soldados foram descolados para proteger a área, e as autoridades começaram a apoiar as buscas. O caso também atraiu turistas e curiosos para a região.
Dois anos depois, no entanto, nada foi encontrado. Logo após a divulgação do caso em 2016, vários historiadores já haviam classificado a história de uma mera lenda e apontado que nenhum trem existia.
Agora, Richter anunciou que resolveu desistir da busca pelo “trem do ouro nazista”. “Não quero mais fazer nada de estúpido”, disse o alemão, acrescentando que as buscas já lhe custaram pessoalmente 80 mil euros (348 mil reais).
Ele, no entanto, afirma que não abandonou as buscas por ter se convencido de que o trem não existe. Pelo contrário. “Tenho 95% de certeza de que existe“, disse. A desistência, segundo ele, foi motivada pela frustração em relação à maneira como as buscas estão sendo realizadas e por diferenças com seu parceiro.
Richter afirmou que a escavação inicial não foi profunda o suficiente e que uma segunda tentativa não foi iniciada por causa do polonês Koper, que teria repetidamente adiado a retomada dos trabalhos. “Em determinado momento, isso me deu nos nervos”, disse.
Ele também se queixou que o parceiro havia apresentando uma projeção mais baixa sobre os custos da escavação, que seriam inicialmente de 20 mil euros. No final, ele afirma ter gasto quatro vezes esse valor.
“Essa foi uma das razões dessa colaboração ter falhado”, disse Richter, que nega que a divulgação da história e a cobertura da mídia tenham lhe rendido dinheiro.
A busca pelo trem chegou ao fim, então? Não se depender de Piotr Koper, o membro remanescente da equipe. À agência de notícias alemã DPA, ele afirmou que pretende retomar os trabalhos por conta própria no próximo inverno.
“No inverno não haverá restrições quanto a árvores e arbustos e ninhos de aves. É o melhor momento para procurar um trem“, disse, deixando claro que o frio não deve baixar sua febre do ouro.
Apesar de nenhum ouro ou trem ter sido encontrado, as autoridades da região das buscas ficaram satisfeitas. O porta-voz da cidade de Walbrzych, local das escavações, afirmou em 2016 ao jornal New York Times que o turismo na cidade havia saltado 44% em comparação ao ano anterior.
“A publicidade global que a cidade recebeu custaria pelo menos 200 milhões de dólares. Nosso orçamento anual para promoção do turismo é de apenas 380 mil. Mesmo que os exploradores não encontrem nada, o trem de ouro chegou à cidade“, disse.