Facilitar o acesso a alimentos cultivados sem o uso de agrotóxicos ou livres de ingredientes de origem animal é o propósito de um novo espaço que será inaugurado em 2018, na região do bairro Butantã, em São Paulo.
O Projeto Vegânica, idealizado por três empreendedoras da cidade, quer tornar mais democrático o consumo de alimentos orgânicos e veganos. A ideia é ofertar os produtos a preços acessíveis, acrescidos de uma taxa fixa para garantir a manutenção do espaço.
Esse modelo de negócio, baseado na economia colaborativa, já vem sendo posto em prática em um evento itinerante, de mesmo nome, realizado na capital paulista há um ano e meio.
“Naquele formato, o Projeto Vegânica conseguiu auxiliar microempreendedores a escoarem suas produções de maneira efetiva, possibilitando preços mais acessíveis ao público que passava pelo evento. Nossa proposta é dar continuidade a esse modelo, mas agora em um local fixo, e agregando várias iniciativas voltadas para o fortalecimento de uma rede de economia solidária” explica uma das idealizadoras da proposta, Stela Silva.
Além da oferta de produtos orgânicos e veganos a preço mais acessível em relação ao que é oferecido no comércio tradicional, o Projeto Vegânica deverá reunir, no mesmo espaço, comidas prontas, preparadas com os excedentes da feira de orgânicos; loja de artesanato, brechó, sebo de livros, salas para capacitação de microempreendedores, escritório compartilhado e espaço de recreação e lazer para crianças.
Sem sair do bairro, os clientes terão, também, dentro do espaço do Projeto, acesso à mercearia, com oferta de grãos, farináceos e sementes a preços compatíveis aos de grandes atacados que vendem produtos similares.
Eles terão, ainda, a opção de delivery, com entrega feita por meio de bicicleta, para contribuir com a redução da emissão de gases de efeito estufa.
Arte, cultura e conscientização
O espaço do Projeto Vegânica também está sendo pensado para sediar eventos culturais e de disseminação de informações sobre consumo consciente, alimentação saudável, veganismo, agricultura orgânica e outros assuntos ligados à sustentabilidade ambiental.
Eventos como happy hour às sextas-feiras e programação especial aos domingos deverão integrar a lista de atividades que estão sendo planejadas para os clientes e público em geral.
“Estamos pensando o Projeto de forma que a sustentabilidade integral seja aplicada de maneira consistente”, acrescenta Silvia Sakuma, também associada fundadora.
“É um modelo de economia em que todos saem ganhando, especialmente produtores de orgânicos, microempreendedores, pessoas que desejam consumir alimentos livres de agrotóxicos, mas ainda não conseguem por conta do valor mais alto, pessoas que sofrem com algum tipo de alergia ou intolerância alimentar, veganos, quem já consome esse tipo de alimento e poderá ter a oportunidade de pagar um preço menor”, diz Sakuma.
Preços acessíveis e transparência
No Projeto Vegânica, todos os produtos serão ofertados pelo mesmo preço pago aos produtores (salvo nos casos em que incida taxas de fretes ou diferenças tributárias, que serão repassadas ao custo do produto), com acréscimo de cerca de 30% para financiar a cobertura das despesas totais do espaço.
Outra sócia do empreendimento, Ilza Lima, explica que a variabilidade do percentual dependerá de condições como tipo de produto, giro, perdas ou outras. Pelos estudos realizados pelas três sócias, mesmo com a cobrança do percentual, em média, os produtos terão um valor mais baixo do que os cobrados no comércio tradicional.
“Aluguel do espaço, contas de água, de energia elétrica, de internet, impostos e remuneração da equipe responsável pelo Projeto são as principais despesas previstas e que deverão ser financiadas com a taxa de 30%. A prestação de contas do uso desse percentual será disponibilizada mensalmente aos clientes na própria loja e na internet”, explica Ilza Lima.
Financiamento coletivo
Para dar início ao Projeto e conseguir abrir o espaço no mês de maio deste ano, as idealizadoras se uniram em uma associação e lançaram nesta segunda-feira (15/01) uma proposta de financiamento coletivo para garantir o pagamento das despesas iniciais e a primeira compra de produtos.
Em contrapartida, as pessoas que investirem na ideia receberão recompensas.
“A materialização desse projeto precisa ser uma iniciativa colaborativa porque sozinhas não temos o investimento necessário. Queremos juntar pessoas que acreditem na ideia e tenham interessem em utilizar o espaço em cada uma das possibilidades apresentadas”, explica Stela Silva.
Ela conta que, além de arrecadar o valor necessário para a concretização da proposta, a intenção é unir pessoas, especialmente os moradores do Butantã (onde vivem em torno de 500 mil pessoas), que tenham um alinhamento com a economia solidária, projetos colaborativos e o desejam contribuir para a melhoria de vida no bairro.
“Queremos fortalecer a economia local, atuar em um modelo no estilo quitanda de bairro, onde cada um leva sua sacola de compras, as pessoas se encontram, conversam, as crianças brincam, há trocas de sorrisos e gentilezas. Queremos criar conexões positivas e contribuir para inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo e, quem sabe, cada região de São Paulo e de outras cidades possam ter um lugar assim”, resume Stela.