O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, CICV, concluiu a primeira fase do trabalho de exumação e identificação dos corpos dos soldados argentinos mortos na Guerra das Malvinas, em 1982, e que estão enterrados no cemitério de Darwin, na maior ilha do arquipélago, chamado de Falklands pelos britânicos.
Justiça apesar de 35 anos após o fim do conflito. O trabalho, realizado a pedido do governo argentino e executado por 14 especialistas forenses de Argentina, Austrália, Chile, Espanha, México e Reino Unido, resgata uma dívida moral com os jovens combatentes que tombaram no conflito que deixou um saldo de 649 mortos entre os argentinos.
O conflito deixou também um número ainda desconhecido de feridos e custou a vida de 255 britânicos e ferimentos em outros 777.
Muitos dos soldados argentinos estavam enterrados em túmulos encimados com uma cruz com os dizeres: “Solo conocidos por Dios”, “Só conhecidos por Deus”.
Para falar sobre esse trabalho, a agência Sputnik ouviu Sandra Lefcovich, membro da CICV no Brasil, que deu detalhes das dificuldades da operação, que continua, agora com o envio de resultados para centros de pesquisa na Argentina e na Grã-Bretanha, onde passarão por novas checagens antes da divulgação da identidade dos mortos, e só então serão informados as suas famílias.
“Embora tenham passado mais de três décadas, ainda há famílias que esperam a identificação. Pais, mães e irmãos querem ter uma notícia sobre a identidade dos seus filhos. O direito internacional humanitário diz que os estados têm a obrigação de identificar os restos mortais dos soldados caídos em batalha”, diz Sandra Lefcovich.
“O CICV respondeu a esse pedido do governo argentino para levar a cabo essa tarefa. Em dezembro do ano passado foi assinado um acordo entre o Reino Unido, a Argentina e o Comitê para que seja levado a cabo essa tarefa, que é bastante complexa, porque as condições meteorológicas não são tão fáceis, mas essa semana conseguimos finalizar mais uma etapa”, acrescenta a responsável.
Sandra Lefcovich diz que os bons resultados do trabalho foram devidos à alta qualificação da equipe forense, formada por profissionais de várias áreas de atuação, incluindo médicos, biólogos e pessoal de apoio logístico.
Segundo ela, os corpos que foram exumados foram sepultados no mesmo dia, observando-se todo a dignidade e o cuidado necessários para o sepultamento. O Comitê também se incumbiu de toda a restauração do cemitério.
“Depois da exumação, foram obtidas e analisadas mostras e documentado cada um desses restos mortais. Isso foi feito num laboratório temporário ao lado do cemitério”, diz Sandra.
“Agora, com essas mostras obtidas, isso vai ser levado a um laboratório na Argentina, o laboratório forense na cidade de Córdoba, onde eles têm amostras de referência dos familiares para poder fazer a comparação. Uma parte aleatória dessas amostras vai ser enviada para outros dois laboratórios só para uma questão de controle de qualidade, um na Grã-Bretanha e outro na Espanha”, explica.
O Comitê vai se dedicar, nos próximos meses, à elaboração de um relatório a ser entregue a ambos os governos, e só a partir daí as famílias serão informadas sobre os resultados das identificações.
Esse trabalho do CICV nas Malvinas não foi o primeiro. O Comitê tem atuado ao longo dos anos nesse tipo de investigação na Colômbia, no Brasil, onde ajuda na formação de equipes forenses, na Ucrânia e em países do Leste Europeu.
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