Arqueólogos encontraram um corpo sem cabeça em uma igreja com 400 anos em Jamestown, na Virgínia, nos EUA. Os restos mortais podem pertencer a Sir George Yeardley, um dos primeiros políticos – e dono de escravos – nas colônias britânicas na América.
Talvez poucas pessoas tenham ouvido falar de Yeardley, mas, na verdade, o político de origem britânica desempenhou um papel fundamental na história da América. O governador de Jamestown supervisionou a Câmara dos Burgueses, o primeiro órgão eleito do governo nas colônias inglesas.
Os cientistas ainda não têm certeza se o corpo encontrado pertence a Yeardley, mas logo depois de terem descoberto o esqueleto, os cientistas encontraram um punhado de dentes – 10, no total –, que se encaixam em um crânio encontrado antes na mesma igreja.
Se o DNA dos dentes e do crânio coincidir com o dos descendentes vivos de Yeardley, os cientistas poderiam então identificar o corpo do antigo governador. Ao analisar os contornos do crânio e a placa dentária, os pesquisadores podem também recriar seu rosto e até determinar que tipo de alimento consumia, aponta o Washington Post.
“Temos muitos especialistas de renome mundial a trabalhar conosco nessa descoberta”, disse Mary Anna Hartley, arqueóloga da Jamestown Rediscovery Foundation, ao jornal norte-americano. “E eu queria ter a certeza de que havia realmente algo para examinar”.
Por exemplo, Turi King, geneticista e arqueóloga da Universidade de Leicester, na Inglaterra, que participou da identificação dos restos do rei Richard III, trabalha com a equipe de Jamestown.
“Nós estamos trabalhando sob o que é conhecido como ‘condições limpas’ na igreja”, revelou King, acrescentando uma das maiores preocupações: contaminar o local com DNA de um dos pesquisadores. “Queremos ter a certeza que o DNA recolhido pertence a indivíduo encontrado e não a mim ou a outro arqueólogo”.
Redescobrir Jamestown
As escavações realizadas na igreja são parte de um projeto dirigido pela Jamestown Rediscovery Foundation, em colaboração com a Smithsonian Institution, para descobrir mais sobre Jamestown, o primeiro assentamento inglês de caráter permanente realizado com sucesso nas colônias americanas.
Yeardley deixou a cidade de Londres em junho de 1609, mas só chegou a Jamestown em 1610. Tornou-se governador da cidade pouco depois, em 1616, com 29 anos.
Mais tarde foi condecorado na Grã-Bretanha pelo pelo Rei James I e depois regressou a Jamestown com instruções da Companhia da Virgínia, que controlava a colônia, para criar “uma forma louvável de governo para as pessoas de lá”, de acordo com documentos históricos, citados pelo Washington Post.
E o plano funcionou: em 1619, um grupo de 30 homens se reuniu na igreja que os arqueólogos escavam agora.
Nesse mesmo ano, a América recebia o primeiro grupo de africanos escravizados. Os africanos, oriundos da Angola, estavam em um navio espanhol em direção a Vera Cruz, no México, mas a embarcação acabou sendo atacada por navios ingleses que levaram 60 escravos para Point Comfort, região que hoje conhecemos como Hampton.
Givens, diretor do projeto de redescoberta de Jamestown, disse que o político Yeardley teria comprado oito pessoas.
Embora as análises genéticas ainda não tenham sido concluídas, o corpo já oferece algumas pistas. O esqueleto pertence a um homem robusto, com idade entre 30 e 40 anos – coincidindo com a idade do governador, que morreu aos 40 anos em 1627.
Além disso, as mãos do esqueleto estão colocadas ao lado do seu corpo – e não cruzadas sobre a pélvis – indicando que esse sepultamento teria sido importante. De acordo com os arqueólogos, o corpo poderia ter sido colocado assim para que pudesse ser visto antes da cerimônia fúnebre.
No início de 1900, foi encontrada na igreja um túmulo que continha símbolos de cavaleiros. Dado que o governador também foi cavaleiro, é provável que a urna pertença a ele, sustentou Hartley.
A arqueóloga notou ainda que o corpo foi sepultado em frente ao altar da igreja, “um lugar bastante privilegiado para enterrar alguém”, reiterou. O solo e os artefatos usados no enterro coincidem com o tempo em questão, acrescentou Givens.
A equipe também tenciona fazer uma datação das ossadas por radiocarbono e fazer testes isotópicos – um isótopo é a variação de um elemento químico que tem um número variável de nêutrons no núcleo –, para determinar se o indivíduo bebeu água da Inglaterra durante a juventude.
Ciberia // ZAP