A região está crescendo bem menos que o esperado, e muito se deve à disputa tarifária entre americanos e chineses. Perspectivas políticas incertas deixam ainda mais inseguros os investidores.
Foi grande a alegria entre os agricultores da Argentina e do Brasil no fim de 2018, quando a China impôs taxas aduaneiras de 25% às importações de soja e milho dos Estados Unidos, em represália às sobretarifas de Donald Trump contra os produtos chineses.
Era previsível que os chineses passariam a cobrir sua demanda de soja com a produção da América do Sul, em vez dos EUA. E no curto prazo a coisa funcionou: as exportações brasileiras do produto dobraram, enquanto as dos fazendeiros americanos ficaram em zero.
Mas a alegria pouco durou. De lá para cá, os preços da soja caíram, sobretudo devido à baixa demanda da China. E não só: também cobre, minério ferro e outras matérias-primas estão em baixa. Em consequência, as mais importantes economias da América Latina minguaram no primeiro trimestre de 2019, em vez de crescer.
Isso se aplica não só a países em permanente crise, como Brasil ou Argentina, ou à naufragada Venezuela. As bem dirigidas economias na costa do Pacífico, como Chile, Peru, Colômbia e México, também não foram poupadas. O crescimento das sete maiores economias da região caiu no primeiro trimestre de 2019 em relação ao anterior. Segundo a JP Morgan, o PIB da América Latina só aumentará 1% neste ano.
Um ano atrás, o analista Bill Ramsey ainda contava com 2,7%. “As turbulências da guerra comercial têm efeito negativo sobre o ânimo na região“, explica. Pelo sexto ano consecutivo, a América ao sul do Texas terá crescimento abaixo de seu potencial.
Na cúpula do G20 que se realiza atualmente em Osaka, reunindo as principais economias mundiais, o desempenho dos latino-americanos é especialmente ruim: só na África do Sul e na Coreia do Sul o crescimento caiu mais do que no Brasil, México e Argentina.
A causa dessa debilidade é a região ter sido uma das primeiras vítimas das disputas sino-americanas e de seus efeitos sobre o comércio mundial. A região é fornecedora de matérias-primas e, portanto, mais dependente da conjuntura na China e nos EUA do que países mais integrados às cadeias globais de valor.
Em 2018, um estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) já acusava uma queda de 6% nos investimentos estrangeiros diretos, pois as empresas concentravam suas aplicações sobretudo nos setores de matérias-primas e menos na indústria. Com a desvalorização do cobre, ferro e soja, ficou menos interessante investir nesses setores.
“Tensões entre os principais parceiros comerciais e uma desaceleração da economia mundial apresentaram um risco considerável para as exportações centradas nas matérias-primas da região”, explica James Zhan, diretor de investimento e empreendimento da Unctad. A agência teme que os investimentos diretos possam minguar ainda mais em 2019.
As perspectivas políticas instáveis deixam ainda mais inseguros os investidores da região. No Brasil não está claro até que ponto o presidente Jair Bolsonaro quer ou pode apoiar o curso liberal de reforma de seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
No México, Andrés Manuel López Obrador igualmente causou insegurança entre os investidores com suas intervenções estatais no setor de energia e suspensão de investimentos públicos. Na Argentina, é possível que o presidente pró-empresariado Mauricio Macri não se reeleja mais para o fim do ano e que, com isso, seu curso de economia de mercado seja interrompido.
O alívio para os latino-americanos poderia vir justamente dos EUA. Lá o presidente Donald Trump vem fazendo grande pressão para que o Federal Reserve (o banco centra americano) baixe suas taxas de juros, o que poderá proporcionar nova liquidez às economias da América Latina.
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