A mais antiga estátua de madeira que se tem notícia foi esculpida na região dos Montes Urais, na Rússia, há mais de 12 mil anos.
A idade do ‘Ídolo de Shigir‘, como o artefato ficou conhecido, foi confirmada recentemente por arqueólogos da Universidade de Gottingen, na Alemanha, em parceria com especialistas do Instituto de Arqueologia RAS e do Museu Regional de Sverdlovsk, na Rússia.
O objeto espanta por se tratar de uma relíquia em madeira, material que costuma se degradar com facilidade em relativamente pouco tempo, mas que foi conservado pelas condições locais.
A estátua em dez partes foi descoberta em 1894, e inicialmente tratada como um tipo de totem ou simplesmente artefato exótico de um passado recente – especialmente pela madeira se encontrar em bom estado de conservação. Somente um século mais tarde é que a idade do ‘Ídolo de Shigir‘ foi aproximada, e incialmente calculada em torno de 9,75 mil anos.
O cálculo é dos anos 1990, porém, foi feito a partir de amostra da parte externa do objeto, e foram necessários dois outros estudos – um em 2018 e outro publicado em janeiro de 2021 – para se alcançar o resultado preciso e mais de 2 mil anos ainda mais antigo.
O último cálculo foi realizado a partir dos anéis de crescimento da madeira utilizada na feitura da escultura – feita com árvore conífera do tipo larix, que continha 159 anéis no interior de seu tronco quando o ‘Ídolo‘ foi criado, revelando a idade de 12,5 mil anos.
O cálculo confirma, portanto, se tratar de artefato da Última Era Glacial, período em que o planeta enfrentava grandes transformações climáticas, quando as primeiras florestas começaram a se espalhar pela região da Rússia e da Eurásia, que se tornava então mais quente.
“A paisagem mudou, e a arte, também. Talvez como uma maneira de ajudar as pessoas a lidar com ambientes desafiadores a que foram se deparando”, afirmou o arqueólogo Thomas Terberger, um dos autores do novo estudo.
A conservação da madeira
Para se ter uma ideia de quão antigo é o ‘Ídolo de Shigir‘, o cálculo final confirma que a estátua é nada menos que 7 mil anos mais antiga que Stonehenge, na Inglaterra – construção de 5 mil anos – e quase três vezes mais antiga que as pirâmides do Egito, construídas em torno de 4,5 mil anos atrás.
A conservação da madeira por tanto tempo se deu pelo ambiente em que foi encontrada: espécie de mangue russo, as turfas em Shigir, na região dos Montes Urais, oferece um contexto anaeróbico ácido, capaz de matar microorganismos.
A face interna da estátua é inteira coberta de gravuras que, segundo especialistas, registram temas sobre espíritos ancestrais, a Terra, a natureza e alguns mitos. A escultura está exposta no museu Sverdlovsk Regional Museum of Local Lore, em Ecaterimburgo, na Rússia.
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