EUA colocam fim a acordo de desarmamento com a Rússia

Konstantin Alysh / Wikimedia

Lançamento de um míssil de cruzeiro russo Iskander-M na região de Leningrado

Com encerramento do histórico tratado nuclear INF, há quem especule sobre um retorno aos anos da Guerra Fria. Garantir segurança da Europa e impedir corrida armamentista deve exigir muito mais esforço nos próximos anos.

Os Estados Unidos desligaram-se oficialmente do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) nesta sexta-feira (02/08). Assim se extingue o acordo binacional de 1987 exigia que americanos e soviéticos eliminassem inteiramente os mísseis de cruzeiro lançados do solo com alcance entre 500 e 5.500 quilômetros.

Sob o INF, pela primeira vez as superpotências concordaram em eliminar toda uma categoria de armas nucleares e submeter-se a extensas inspeções para assegurar que ambos os lados seguissem as regras do tratado.

Isso foi especialmente importante para a Alemanha, onde, nos anos 1970 e 1980, realizaram-se grandes manifestações para impedir o posicionamento de mísseis nucleares no país. Os protestos fracassaram, e mais de 100 mísseis Pershing 2 foram estacionados na então Alemanha Ocidental.

Com a assinatura do tratado INF, um total de 2.692 mísseis foi destruído. Menos da metade deles estava nos depósitos ou não foi posicionada. Até hoje continua forte a oposição às armas nucleares na Alemanha.

Passadas quase três décadas da assinatura do tratado, Os EUA acusam a Rússia de descumprimento do acordo, com base em relatórios de inteligência. Washington argumenta que o míssil russo 9M729 viola o INF. Moscou nega as alegações: com um alcance máximo de 480 quilômetros ele estaria abaixo dos limites do tratado.

O que está em jogo para a Europa?

Enquanto se desenrola o jogo de culpas entre Washington e Moscou e as obrigações do INF estão suspensas, a segurança europeia está especialmente fragilizada.

Para Ulrich Kühn, do Instituto de Pesquisa da Paz e Política de Segurança da Universidade de Hamburgo (IFSH), o fim do acordo é “uma notícia muito ruim para a segurança europeia”. “Isso significa que estamos voltando aos anos 80, vendo novamente aqueles mísseis apontando para a Europa Ocidental do lado russo e, talvez em um ou dois anos, do lado ocidental em direção à Rússia.”

Em 2018, o posicionamento dos mísseis com capacidade nuclear Iskander-M em Kaliningrado, um enclave russo no Mar Báltico, causou alvoroço nos países ocidentais. A Rússia afirma tratar-se uma decisão de segurança nacional, enquanto países vizinhos pertencentes à Otan, como a Polônia, percebem o fato como uma séria ameaça.

O Kremlin afirma que eles foram implantados para combater o escudo antimísseis dos EUA que está sendo instalado na Europa Oriental. Apesar de Washington argumentar que o objetivo é fazer frente a possíveis ataques de mísseis do Irã, Moscou não está convencido disso e argumenta que o alvo seria a Rússia.

Mantendo a unidade da Otan

Embora a Otan vise assegurar a segurança de todos os seus membros, torna-se um desafio atuar de forma uníssona se a percepção de ameaça diverge dentro da aliança.

Roderich Kiesewetter, da União Democrata Cristã (CDU), partido governista da Alemanha, diz acreditar que é importante não perder a “visão de 360 graus” e garantir que os interesses de todos os membros estejam igualmente representados.

No entanto, com o fim do INF, os países do Leste europeu e da região báltica, que sentem a ameaça russa de forma mais intensa que outros membros da Otan, estarão provavelmente mais abertos a acordos bilaterais com os EUA.

“A principal meta é evitar a disseminação de armas nucleares na Europa”, diz Kiesewetter. Por isso deve haver “um acordo especial entre a Polônia e os EUA para posicionar armas nucleares na Europa”. Isso só serviria aos interesses da Rússia, que quer uma Otan mais fraca e está fazendo tudo a seu alcance para consegui-lo, afirma.

Richard Weitz, do Instituto Hudson em Washington, concorda que isso pode ajudar a Rússia a explorar divisões entre os aliados, mas por outro lado “pode aumentar os gastos com a defesa aliada ou impedir que aliados comprem armas russas”. Em sua opinião, o governo americano vê isso como “apenas uma questão de negócios”.

Os Estados Unidos têm insistido para os membros da Otan atingirem a meta de gastos de defesa proporcional a seu PIB, algo que poucos realizaram até agora.

// DW

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …