A expedição a bordo do navio Esperanza da organização não-governamental (ONG) Greenpeace, com pesquisadores brasileiros e ativistas ambientais, pela região dos chamados Corais da Amazônia, encontrou peixes que estão sob risco de extinção e possíveis novas espécies nos recifes de corais localizados na Foz do Rio Amazonas, costa norte do Brasil.
“Tinha recifes muito maiores do que imaginávamos, mais extensos, muito mais complexos do que imaginávamos, cheios de pargos e chernes – que são grandes predadores recifais –, que é um indicativo de que é um ecossistema saudável”, disse Ronaldo Francini Filho, pesquisador da Universidade Federal da Paraíba.
Na avaliação de Francini, os pargos e chernes, encontrados em abundância na região, correm risco de desparecer: “Eles estão correndo risco de extinção”.
A jornada da campanha Defenda os Corais da Amazônia começou no dia 24 de janeiro, quando o navio saiu do Porto de Santana, no Amapá, em direção à área onde estão localizados os recifes, e terminou no último dia 10.
O grupo navegou por 1.649 milhas náuticas – cerca de 3 mil quilômetros –, e ficou a uma distância de aproximadamente 100 quilômetros da costa brasileira, indo e vindo pelas áreas dos recifes.
“A maior surpresa para mim foi a enorme diversidade de organismos recifais – aumentamos muito o número de espécies que conhecíamos de lá – e ver que é um recife de coral mesmo, com coral negro, com esponjas e com vários organismos construtores”, informou o pesquisador.
Oito mergulhos foram realizados com um submarino, o mais profundo deles a 220 metros. “Vimos também bichos que são provavelmente novos para a ciência. Vimos peixes-borboleta muito diferentes. Nesses recifais, conseguimos distinguir bem pela cor, é um diagnóstico bom para novas espécies”, disse.
No entanto, ele explicou que os pesquisadores só conseguem descrever formalmente uma espécie com realização de sequenciamento genético, caracterização morfológica e de coloração. “Temos uma grande indicação de que existem espécies novas nesse recife do Rio Amazonas, mas só vamos conseguir comprovar isso com amostras futuras”.
A próxima expedição para coleta de amostras biológicas deve ocorrer no segundo semestre deste ano.
Recifes
O tamanho dos recifes de corais da Amazônia também surpreendeu os tripulantes. A estimativa inicial era de um total de 9,5 mil quilômetros quadrados (km²) – uma área 20% maior que a região metropolitana de São Paulo. Francini Filho faz uma projeção de que os recifes sejam de três a quatro vezes maior que isso.
“Eu vou ter que fazer um cálculo para prever onde o recife ocorre nessa nova profundidade, que é 185 metros e onde já começa o recife. O que imaginávamos antes era 100 metros. Temos uma área muito maior na base do recife, que é uma base mais funda, e é quase que um corredor contínuo entre o Brasil e o Caribe”, disse o pesquisador.
Segundo ele, o grupo não tinha até então uma amostragem mais abrangente para mapear o local.
“Tem mapeamentos que a Marinha fez na década de 1940. Depois tem algumas campanhas que foram feitas lá, em alguns anos posteriores. Existem algumas batimetrias, mas elas são bem imprecisas. Tem pontos na carta náutica que batiam 30 metros e que, na verdade, eram 200 metros de profundidade, para se ter ideia do erro”, informou.
Com a expedição do Esperanza, os pesquisadores conseguiram identificar mais detalhes, contribuindo para deixar seus mapas mais precisos. Mesmo assim, o pesquisador ressalta que é necessário “um mapa mais acurado, sensoriamento mesmo, feito por uma sonda e de forma mais sistemática”.
Paredão de rochas
Um paredão de rocha, com mais de 20 km de extensão, também está na região dos Corais da Amazônia. “É realmente uma área que tinha uma característica de fundo bastante única e também não estava na carta náutica, como já era esperado”, disse Francini Filho sobre mais uma dos achados da expedição.
Diversas formas de vida podem estar associadas a um paredão como esse e “quanto mais complexo o substrato, mais diversidade associada se tem. Esse era um paredão com rochas expostas, áreas com muitos corais negros, então era uma área bem rica, interessante do ponto de vista biológico”, disse o pesquisador.
“Procuramos complexidade porque é onde temos as agregações, os refúgios de biodiversidade”, explicou.
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