Os corpos de centenas de montanhistas que desapareceram nos Alpes no século passado podem voltar à luz do dia à medida que o aquecimento global faz os glaciares derreterem.
A descoberta mais recente é o corpo de um homem que desapareceu há 30 anos, a polícia suíça passou cerca de duas horas a picar o gelo até conseguir extrair os restos mortais de um cidadão alemão que foi visto pela última vez enquanto fazia uma caminhada nos alpes, em uma região chamada Valais, em 11 de agosto de 1987. Mas as autoridades admitem que casos como este devem surgir nos alpes nas próximas décadas.
Há poucas semanas, os corpos de um casal suíço, Marcelin e Francine Dumulin, que tinham desaparecido em 1942, foram resgatados. Na última quinta-feira, desta vez nos alpes franceses, foram descobertos os restos mortais de uma pessoa que se acredita ter morrido em um acidente de aviação da Air India, há mais de 50 anos.
Segundo o The Guardian, os glaciares suíços estão derretendo a um ritmo sem precedentes. Uma investigação do jornal suíço Tagesanzeiger revela que desde 1850 – quando os glaciares cobriam 1.735 quilômetros quadrados de território suíço – a área total coberta diminuiu pela metade, cerca de 890 quilômetros quadrados.
Christian Zuber, porta-voz da polícia de Valais, admite que a polícia tem expectativa de encontrar muitos mais corpos de pessoas desaparecidas devido ao aquecimento global. As autoridades até têm um mapa que assinala nomes e locais onde desapareceram 305 pessoas desde 1925.
“Os glaciares estão se retraindo, portanto, é lógico que encontremos mais cadáveres e partes de corpos. Nos próximos anos, esperamos que muitos mais casos de desaparecimentos sejam resolvidos”, afirmou Zuber.
Segundo o porta-voz, a polícia fica muito aliviada por poder, finalmente, informar aos familiares o paradeiro dos entes queridos quando são descobertos. “Quando um cadáver é descoberto, a garantia é absoluta”, explicou o responsável.
“Nós, locais, estamos habituados às montanhas, mas as descobertas não são menos emocionais para as pessoas daqui”, frisou, exemplificando com o funeral que os familiares fizeram ao casal Dumulin, que esteve desaparecido por 75 anos.
Já Christian Jackowski, cientista no Instituto de Medicina Forense da Universidade de Berna, revelou que a identificação de restos mortais passou a ser tarefa comum nas férias de verão na Suíça, altura em que muitos alpinistas e montanhistas aproveitam para voltar às montanhas cobertas de gelo e dão o alerta ao avistarem cadáveres.
Antes, os corpos eram normalmente encontrados no gelo do topo do glaciar, mas não é incomum serem descobertos restos mortais junto aos vales. O estado de preservação dos cadáveres depende das circunstâncias da morte das pessoas: alguns são mumificados pela exposição ao Sol e ventos secos antes de serem engolidos pelo gelo, e outras vítimas são reduzidas a esqueletos.
A maioria dos corpos fica presa no gelo devido a acidentes ou suicídio, mas alguns casos têm sido investigados por suspeita de crime. Logo que os cadáveres são retirados, os especialistas forenses enfrentam uma corrida contra o tempo, já que os restos mortais começam a descongelar.
Os registos dentários e amostras de DNA são confrontados com uma base de dados de pessoas desaparecidas, para que se determine a identidade do indivíduo.
Desde o ano 2000, as autoridades suíças retiram imediatamente amostras de DNA dos familiares de pessoas desaparecidas nas montanhas para que o processo de identificação seja facilitado.
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