Com decisão, smartphones novos da Huawei não poderão acessar vários aplicativos populares. Empresa chinesa está sob pressão de Washington devido a supostos laços com o governo da China.
A Google anunciou a retirada da licença da Huawei para usar o sistema operacional Android do gigante de tecnologia americano para telefones móveis – a medida obedece a uma diretriz emitida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e força a empresa chinesa de telecomunicações a depender de uma versão de código aberto do software.
Com a suspensão dos negócios, os novos smartphones da Huawei não terão mais acesso a serviços como Gmail, Google Maps e YouTube, além de atualizações de segurança. Usuários que já possuem aparelhos da companhia chinesa poderão seguir com o uso e a atualização de aplicativos baixados.
“Estamos cumprindo a ordem [presidencial] e analisando as implicações“, limitou-se um porta-voz do Google.
Na semana passada, Trump assinou uma ordem executiva após declarar “emergência tecnológica”. A ordem visa impedir que empresas americanas usem equipamentos de telecomunicações feitos por “adversários estrangeiros” considerados de risco à segurança nacional.
A ordem executiva não impôs automaticamente restrições à compra e venda de equipamentos de telecomunicações, mas deu ao secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, cinco meses para estabelecer quais empresas deveriam estar sujeitas às novas restrições.
Os principais fabricantes de processadores, como a Intel, Qualcomm, Xilinx Inc e Broadcom, informaram os seus funcionários que deixarão de fornecer equipamentos à Huawei até nova ordem.
A Huawei tem sofrido uma imensa pressão de Washington depois de alegações de que seus produtos permitem que agências de inteligência chinesas usem supostos backdoors (porta dos fundos – método de escapar de uma autenticação ou criptografia num sistema computacional) nos softwares, que poderiam ser usadas para espionagem cibernética.
Pequim: “histeria do Ocidente”
O Ministério das Relações Exteriores da China classificou as alegações como “histeria do Ocidente”. O fundador e presidente-executivo da Huawei, Ren Zhengfei, recusou-se a ceder à pressão americana. Na semana passada, Ren afirmou que sua empresa “já estava se preparando para isso”.
“Não fizemos nada que viole a lei“, disse Ren ao jornal japonês The Nikkei. “Espera-se que o crescimento da Huawei possa diminuir, mas apenas ligeiramente.”
A Huawei é pioneira na tecnologia 5G, mas depende bastante de fornecedores estrangeiros. A empresa compra cerca de 67 bilhões de dólares em componentes a cada ano, incluindo cerca de 11 bilhões de dólares de fornecedores americanos, segundo dados publicados pelo The Nikkei.
A imprensa americana sugeriu que a Huawei desenvolveu um sistema operacional próprio caso perca o acesso ao Google e aos serviços da Microsoft. Algumas destas tecnologias já estão em uso em produtos vendidos na China, de acordo com a própria Huawei.
No entanto, a medida do Google pode ter um impacto negativo nas vendas da Huawei fora da China, particularmente no Ocidente. O comércio da empresa chinesa em solo europeu – o segundo maior mercado da Huawei – deve sofrer quedas, pois os chineses licenciam seus serviços do Google na Europa.
Mas a extensão a qual a Huawei será prejudicada pela lista negra do governo dos EUA ainda não tem como ser mensurada, enquanto sua cadeia de fornecimento global avalia o impacto. Especialistas em chips questionaram a capacidade da Huawei de continuar a operar sem a ajuda dos EUA.
Batalha por supremacia tecnológica
Ao mesmo tempo em que trava uma guerra comercial com Pequim, Washington tem liderado uma campanha global para impedir que empresas chinesas – como a Huawei – assumam o controle das redes 5G.
A batalha comercial também tem tido desdobramentos políticos. Em dezembro, a diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, foi detida no Canadá. Ela teria violado o boicote comercial estipulado pelo governo americano contra o Irã.
Depois da prisão da empresária, que também é filha do fundador da Huawei, dois cidadãos canadenses foram detidos na China, no que foi considerado uma ação de retaliação por parte de Pequim. Além disso, a sentença de um canadense encarcerado na China por contrabando de drogas foi convertida em pena de morte.
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