Responsável pelo sistema de monitoramento de mísseis na União Soviética durante a Guerra Fria, Stanislav Petrov recebeu um alerta de ataque, mas decidiu reportá-lo como falso. Sua decisão pode ter evitado a Terceira Guerra Mundial.
No lugar certo e na hora certa. Assim Stanislav Petrov descreve seu feito à frente do sistema de monitoramento nuclear da União Soviética em 1983 que, possivelmente, salvou o mundo da Terceira Guerra Mundial.
Responsável por reportar qualquer ataque ou possibilidade de ataque dos Estados Unidos à União Soviética no auge da Guerra Fria, na década de 1980, Petrov recebeu um alerta que desesperaria qualquer pessoa na sua situação. O sistema de monitoramento soviético alertava para um ataque de mísseis vindo dos Estados Unidos na direção do país socialista.
Ao ver o alerta, Petrov deveria reportá-lo aos seus superiores, que preparariam a retaliação ao ataque, o que provavelmente daria início a uma guerra nuclear mundial. Mas o militar soviético desconfiou e, em poucos minutos, tomou uma decisão que pode ter mudado o rumo da humanidade. Ele reportou o alerta como falso.
“Não acho que fiz algo extraordinário, eu era um homem que estava fazendo apenas seu trabalho da maneira correta. Não acho que fiz nada heroico, eu só estava no lugar certo, na hora certa”, disse Stanislav Petrov em entrevista ao programa de rádio Outlook, do Serviço Mundial da BBC.
“Na minha frente estava um painel brilhante, com letras vermelhas, dizendo que o computador havia detectado sinal de mísseis”, contou. Mas Petrov desconfiou do alerta. A certeza do sistema sobre o ataque era tão grande que fez com que o militar suspeitasse que havia algum problema técnico.
“Eu olhei para o painel de novo e ainda dizia que o míssil havia sido lançado e que a probabilidade de ataque era 100%. E, para o computador, prever uma probabilidade dessas é simplesmente impossível. O número deveria ser um pouco menor, havia 28 ou 29 níveis de segurança no sistema e, depois que o alvo fosse identificado, ele teria de passar por todos esses pontos de segurança. Então aquilo era inacreditável. Isso foi o grande motivo da minha dúvida.”
A decisão de Petrov poderia ser fatal, tanto se ele reportasse o ataque – por causa da retaliação -, como se não reportasse e estivesse errado quanto ao erro do sistema.
“Eu tinha que pensar rápido. Cada segundo era crucial para a resposta militar da União Soviética. Eu sabia também que ninguém seria capaz de corrigir meu erro se eu estivesse realmente errado. Eu olhei para a minha equipe e percebi que eles estavam entrando em pânico.”
Mesmo tendo 50% de chance de estar errado, Sanislav Petrov decidiu reportar o ataque como falso. Ele ligou para os superiores e disse que havia um problema no sistema.
“Liguei para meus superiores e disse que o alarme era falso. Na mesma hora, o alarme tocou de novo e veio um novo aviso vermelho. Eu ainda estava falando com eles e disse que havia um novo alerta, mas que eu também o considerava falso”, relata.
“Eles aceitaram o que eu disse e desligaram. Logo em seguida, veio um terceiro alerta dizendo que mais um míssil estava vindo, depois outro e outro. E aí veio a mensagem dizendo que um ‘ataque de mísseis’ estava acontecendo.”
Segredo
Petrov sabia de sua responsabilidade e, conscientemente, “não queria ser o responsável pelo início da Terceira Guerra Mundial”. Depois que reportou o ataque como falso, ainda viveu momentos de muita tensão até esperar cerca de 15 minutos e ver que, realmente, nenhum míssil havia caído na União Soviética e que, portanto, o sistema havia falhado.
Depois do ocorrido, Stanislav Petrov não pôde contar a ninguém o que havia se passado em sua sala. A decisão que salvou o mundo de uma guerra nuclear ficou desconhecida por muito tempo, porque os militares soviéticos não queriam que ninguém soubesse que o sistema de monitoramento que tinham havia falhado.
“Eu tive que manter tudo em segredo, não pude nem contar para minha mulher, só contei para ela 10 anos depois. Você precisava ver a cara dela.”
A história acabou saindo na imprensa, e Stanislav Petrov recebeu inúmeras homenagens pelo seu feito que salvou o mundo. Ainda assim, ele gosta de minimizar o fato. “Aquele era o meu trabalho.”
Apesar disso, ele diz que se outra pessoa estivesse monitorando o sistema naquele momento, era bem provável que a história fosse diferente. “Meus colegas de trabalho eram soldados profissionais. Eles só aprenderam a dar ordem e obedecer. Eles tiveram sorte que era eu quem estava monitorando o sistema naquele momento.”
// BBC