Usando uma nova técnica de digitalização, pesquisadores nos Estados Unidos descobriram uma pintura que pairava sob uma das grandes obras de Pablo Picasso, a chamada La Misereuse Accroupie.
Embaixo da pintura de óleo, há uma outra pintura, com o desenho de uma paisagem da cidade de Barcelona, na Espanha – aparentemente, Picasso a teria usado como base para sua obra-prima.
O novo sistema de raio-X fluorescente é mais barato do que outros sistemas de digitalização de artes e ele é “portátil”, o que faz com que possa ser levado para qualquer galeria que tenha interesse.
Os detalhes sobre a descoberta foram revelados na Associação Americana pelo Avanço da Ciência em Austin, no Texas, nos Estados Unidos. A La Misereuse Accroupie faz parte do chamado “período azul” de Picasso, que durou de 1901 a 1904, quando a cor azul era a que dominava a gama cromática de suas obras.
“É aqui que a tecnologia nos permite entrar um pouco na mente do artista, para entender o processo criativo de Picasso e como ele efetivamente começou a produzir sua arte”, disse o pesquisador Marc Walton da Northwestern University, que estava apresentando o trabalho em Austin.
“Isso nos dá uma ideia melhor sobre como essa estrutura de camadas se desenvolveu, porque alguns pigmentos estão em apenas uma camada e não na outra”, analisou Walton.
O que os pesquisadores notaram é que a pintura da paisagem – que provavelmente teria sido pintada por um aluno e aspirante a artista – estava virada em cerca de 90 graus. O contorno das colinas ao fundo virou as costas da mulher. Ela assume o formato e a forma de uma região interior na Catalunha.
“Picasso usou a paisagem de Barcelona como inspiração para a forma da mulher”, disse Walton.
Kanneth Brummel, curador da Galeria de Arte de Ontario, em Toronto, disse que ficou animado ao descobrir que havia uma pintura sob a obra de La Misereuse Accroupie.
“Ajuda a determinar a data de quando foi feita a pintura e também onde ela foi feita”, disse.
“Mas também dá uma ideia sobre quem seriam os artistas com quem o pintor estava envolvido. E essas informações nos ajudam a fazer perguntas novas, mais interessantes e cientificamente mais precisas sobre um artista, seu processo artístico e como ele chegou às formas que vemos na superfície de uma pintura”.
Francesca Casadio, do Centro de Estudos Científicos nas Artes de Chicago, que está entre as líderes do projeto, espera que esses equipamentos de digitalização sejam cada vez mais utilizados e ajudem na compreensão mais profunda dos artistas e também deem uma ideia melhor sobre a forma como trabalhavam.
“Muitas outras obras estão apenas esperando para contar seus segredos e com nosso sistema digitalizado nós podemos ajudá-las a falar ainda mais conosco”, disse.
Até hoje, a digitalização ficava restrita apenas para as melhores obras de arte – e para as galerias mais ricas. Agora, o novo sistema pode ser usado por qualquer um para encontrar a história por trás de qualquer pintura que lhes desperte interesse.
// BBC