Apesar de não poderem pendurá-lo na sala de estar, o quadro pertence a todos eles: 25 mil internautas, que compraram em conjunto um Picasso em uma plataforma suíça de compras coletivas, puderam contemplar a obra pela primeira vez na sexta-feira (27), em Genebra.
Os utilizadores do site de compras coletivas suíço Qoqa procuram habitualmente furadeiras, malas ou viagens a Marrakech a preços atrativos.
Mas segundo a AFP, no mês de dezembro, a plataforma, lançada em 2005 com o slogan “Fazemos qualquer coisa, mas fazemos por você”, disponibilizou o quadro de Picasso “Buste de mousquetaire” (Busto de mosqueteiro) por 2 milhões de francos suíços – mais de R$ 7 milhões.
Em três dias, 25 mil pessoas compraram os 40 mil lotes, a 50 francos suíços (R$ 175) cada um, tornando-se oficialmente os felizes proprietários do quadro com dimensões 58 cm x 28,5 cm.
A ideia da Qoqa, inicialmente, era a de “fazer muito barulho” para que as pessoas falassem da empresa, mas também queriam democratizar o mundo da arte, que muitas vezes é visto como “fechado e obscuro”, explicou à AFP Pascal Meyer, diretor executivo e fundador da plataforma.
“Quando lançamos a ideia, disseram: esqueçam, é simplesmente impossível“, conta, na sede da empresa, nos arredores de Lausanne. “Depois, quando começamos a falar de Picasso, disseram: ‘agora é duplamente impossível’. Assim, o desafio se tornou muito divertido, e dissemos que tínhamos que tentar, tentar democratizar um pouco esse campo que parece inacessível para as pessoas comuns“.
A empresa contratou especialistas para certificar “a autenticidade da peça” e “assegurar que pagávamos o preço correto”, conta Meyer, que não quis dizer quanto a Qoqa pagou “a um proprietário europeu” pela obra.
Um por todos e todos por um
Como que cumprindo o lema do mosqueteiro retratado no quadro – “Um por todos e todos por um” –, a partir de agora dependerá dessa grande comunidade de proprietários cuidar do destino da obra e decidir, por exemplo, onde ficará exposta.
O Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Genebra (Mamco) será a primeira instituição a exibi-lo, a partir desta sexta-feira. A iniciativa seduziu o diretor do museu, Lionel Bovier.
Para o Mamco, que tem fama de expor arte elitista, se associar desta forma à plataforma de compra supõe, em parte, abrir um pouco mais suas portas.
“O principal interesse para nós reside na forma de desenvolvimento de público. Ou seja, de ter contato, de nos dirigirmos a esse público que se tornou proprietário coletivamente do quadro”, explicou Bovier à AFP. “Esperamos receber o maior número possível de proprietários dessa comunidade de 25 mil pessoas”, continuou.
Os proprietários, que possuem um cartão numerado e estampado com uma reprodução da obra, poderão ir ao local para admirar a obra sem precisar pagar entrada.
Bovier também deseja usar a experiência da Qoqa nas tecnologias digitais para expor o quadro de forma original. Nesse sentido, está prevista uma interação com o público pela “PiQasso”, uma plataforma dedicada à peça do portal Qoqa, e por uma webcam.
Também será feito “um escaneamento em 3D da obra para que as pessoas possam passear por dentro do quadro, enfim… pequenas coisas que fazem disso tudo algo um pouco mais interessante e menos tedioso, se me permite dizer”, destacou Meyer.
O museu irá propor “encontros”, “atividades” e “conferências sobre o quadro, Picasso, e também sobre o trabalho de conservação que os museus realizam, especialmente para obras desse tipo”, detalhou Bovier.
O quadro fica em Genebra até outubro. Depois. os 25 mil proprietários terão que votar para decidir o próximo destino.