Os jornais Le Monde (França), The Guardian (Reino Unido) e The New York Times (EUA) repercutiram nesta segunda-feira a decisão da Conmebol de transferir a realização da Copa América para o Brasil, em plena pandemia. A crise sanitária obrigou os países vizinhos a cancelarem o mesmo torneio, apesar de sua importância financeira.
O site do jornal francês Le Monde destaca a insatisfação de jogadores sul-americanos com a realização da Copa América no Brasil.
“O Brasil registrou mais de 460.000 mortes por Covid-19 e os epidemiologistas temem uma terceira onda de contaminação. Neste contexto, alguns jogadores internacionais expressaram sua oposição à realização do torneio”, destaca o jornal..
“Estou impressionado com o fato de que a Copa América será disputada apesar da situação atual”, disse o uruguaio Luis Suarez ao vespertino francês. Seu compatriota, Edinson Cavani, também denunciou a decisão.
“É uma irresponsabilidade terrível que tudo se faça para jogar a Copa América. Nada sobre a situação social importa aqui, nem mesmo os riscos associados ao vírus“, publica Le Monde.
O jornal francês destaca ainda o depoimento do deputado Marcelo Freixo (Psol) no Twitter. “A Argentina recusou a Copa América por causa do agravamento da pandemia. Lá, a média móvel de mortes nos últimos sete dias foi de 470 pessoas… Aqui, é de 1.844. QUATRO VEZES MAIOR. Esse é o retrato de um governo assassino”, publica Le Monde, reproduzindo o tuíte de Freixo.
O jornal destaca ainda que “esta será a sexta vez que o Brasil sediará a Copa América, competição na qual venceu todas as vezes que disputou em casa (1919, 1922, 1949, 1989 e 2019). Em 2019, o país conquistou o campeonato pela nona vez, vencendo o Peru (3 a 1) na final”.
“Surpreendente”
Para o jornal britânico The Guardian, a decisão da Conmebol de realizar o torneio no Brasil é “surpreendente”. “O país tem um dos maiores índices de mortalidade Covid-19 do mundo, com mais de 400.000 óbitos. Manifestações foram realizadas em todo o país para exigir o impeachment do presidente, Jair Bolsonaro, por sua forma de lidar com a crise.
O Guardian sublinha que Gonzalo Belloso, secretário-geral da Conmebol, disse na semana passada que a organização conversou com autoridades chilenas com o objetivo de sediar alguns jogos no país. “Os organizadores estão relutantes em cancelar o torneio por causa de sua importância financeira”, analisa o jornal britânico.
“A Copa América 2019 rendeu US $ 118 milhões e foi a segunda maior fonte de receita anual da confederação depois da Copa Libertadores, o equivalente à Liga dos Campeões da Europa”, destaca o periódico em seu site.
“Presidente brasileiro zombou de lockdowns”
O norte-americano The New York Times reportou que “o Brasil, onde o número de novos casos diminuiu recentemente, mas permanece alto, viu mais mortes por Covid-19 do que qualquer outro país, além da Índia e dos Estados Unidos”.
Segundo o jornal, “seu presidente, Jair Bolsonaro, zombou repetidamente de lockdowns, do uso de máscaras e outras medidas, desprezou a orientação de especialistas em saúde para lidar com a pandemia”, contextualiza a publicação.
Em seguida, o Times sublinha a diferença com a Argentina, onde “a edição de 2020 da Copa América foi adiada por um ano na primavera passada, após o início da pandemia”.
Na Argentina, “enlouquecida por futebol, país que sediou o evento pela última vez em 2011, a Copa América foi vista como uma ocasião para receber algumas das maiores estrelas do esporte, incluindo o próprio Lionel Messi.
Mas os pedidos para transferir o torneio, que normalmente ocorre a cada quatro anos, para outro lugar, aumentaram nas últimas semanas, com os oponentes no Twitter usando a hashtag #NoALaCopaAmericaEnArgentina e #NoToTheCopaAmericaInArgentina”, publica.
// RFI