Respirar fundo, soltar o ar lentamente, se esticar ou deitar, são alguns dos exercícios de ioga que ajudam os moradores das comunidades carentes do Rio de Janeiro a reduzir o estresse provocado pela violência em seus bairros.
Regiões marcadas pelos tiroteios quase diários, como os complexos do Alemão e da Maré, Cidade de Deus e Cantagalo atraem voluntários do projeto internacional de ioga e meditação “Arte de viver”.
A coordenadora do Curso de Respiração Ar e Som (RAS) da “Arte de viver” nas favelas do Rio, Lanusia Cavalcante, explica à Agência Efe que “o ioga alivia o estresse”, um problema “dentro das comunidades”, por conta da “violência, falta de respeito e tudo que está acontecendo nos últimos anos”.
A violência “leva o indivíduo a aumentar sua carga limite de estresse”, diz Lanusia, que incentiva a prática diária da “ioga e respiração”, para melhorar o nível de estresse, que está diretamente relacionado com humor e energia.
“Então lutar contra problemas emocionais, através do ioga e as respirações, você consegue amenizar os problemas de estresse, e traz sua paz interior. Esse é o objetivo: trazer a paz interior”, afirma.
Em uma das suas sessões de ioga, no Conjunto de Favelas do Alemão, um dos mais populosos e violentos do Rio de Janeiro, Lanusia Cavalcante reuniu cerca de 30 pessoas que seguiram suas orientações para fugir dos problemas cotidianos, pelo menos por um momento.
Ali estava Joedson, de 13 anos, que reconhecia que não gosta da vida na favela, pois “tudo é muito intenso”, desde “a música até passeio na rua, nada é tranquilo”. Por isso, convenceu seu amigo Matheus para tentar a aula de ioga e “desligar”.
Além de buscar a paz interior, os alunos do Alemão aproveitaram para se divertir e terminaram dançando e cantando para esquecer o barulho das armas, tão habituais no local.
Há pouco mais de um mês, a instalação de uma torre blindada pela Polícia Militar custou seis dias de tiroteios e deixou cinco mortos no Complexo do Alemão.
De acordo com a ONG Anistia Internacional, aconteceram pelo menos 1.771 tiroteios no Rio de Janeiro durante o primeiro trimestre do ano, principalmente entre a polícia e traficantes de drogas que controlam várias comunidades, ou entre facções criminosas que tentam invadir o território dominado pelo grupo rival.
Lanusia Cavalcante adverte que o estresse causado pela violência não só turva a vida das pessoas, mas está provocando um onda de doenças nas favelas.
Através da respiração e o ioga, Lanusia pretende mudar a forma de viver e melhorar a saúde dos brasileiros, especialmente dos submetidos a maior tensão, como os moradores das comunidades carentes.
// EFE