O pólo sul de Encélado está ferido, sangrando calor e água. O machucado pode ter sido causado por uma gigante colisão cósmica com a lua de Saturno há 100 milhões de anos, deixando uma área coberta por fissuras que vazam.
A região próxima do pólo sul de Encélado é um dos mistérios mais intrigantes do sistema solar. A cavidade está lançando ao espaço líquido vindo de um oceano interno, além de uma enorme quantidade de calor. A emissão desse calor é 10 gigawatts maior do que era esperado – equivalente ao poder de 4 mil turbinas eólicas em capacidade total.
No entanto, o restante da lua é frio é relativamente homogêneo.
“Não temos uma boa explicação do porquê toda essa atividade é tão concentrada”, disse John Spencer, do Southwest Research Institute no estado norte-americano do Colorado.
Na maioria das luas congeladas e mundos oceânicos, a principal fonte de calor é a força de maré: os planetas e astros são esticados pela gravidade dos seus “pais e vizinhos”, o que gera calor interno.
“Se Encélado fosse aquecida por forças de maré, o norte e o sul deveriam parecer iguais. Então o fato de o sul de Encélado ter estas regiões loucas com jatos de água e calor sendo lançados é enigmático”, disse Angela Stickle, da Universidade John Hopkins, em Maryland (EUA).
Stickle e o colega James Roberts usaram simulações de computador para verificar se o enigma poderia ser explicado por um impacto gigante ocorrido no passado. Eles descobriram então que a estranha aparência da lua poderia ter surgido por uma enorme explosão, que causou as fissuras no gelo que cobre a superfície do corpo celeste.
Esse tipo de colisão deixaria o pólo sul mais quente e enfraquecido, explicaram os cientistas ao Lunar and Planetary Science Conference, realizada no Texas na semana passada.
Mundo coberto de cicatrizes
“Um impacto poderia prover as condições necessárias para formar um terreno como o que vemos em Encélado hoje”, disse Stickle, acrescentando que para ter o efeito causado, a explosão deve ter sido poderosa o suficiente para atravessar os 20 quilômetros de gelo que cobre os oceanos ocultos da lua.
A explicação para que não vejamos uma cratera atualmente é a de que a superfície da lua passar a congelar de novo imediatamente.
Apenas uma hora depois do impacto, o líquido exposto já teria 10 centímetros congelados, dando início a reconstrução do escudo de gelo que envolve Encélado. “Cura fácil, mas deixa cicatriz”, afirma Roberts.
Um impacto dessa magnitude depositaria energia sob a superfície gelada da lua, aquecendo e enfraquecendo o gelo ao redor do local da colisão. Também causaria uma onda de choque e atividade sísmica que poderia rachar o escudo gelado.
Além disso, a queda do asteroide não precisaria nem mesmo ocorrer no pólo sul, pois a força iria interferir na gravidade: a lua giraria e a cratera se moveria gradualmente para uma região polar.
“O impacto poderia ter acontecido em qualquer lugar e, então, Encélado giraria até que o local da colisão terminasse em qualquer um dos pólos que estivesse mais perto”, disse Francis Nimmo, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.