Cientistas encontraram sinais de vida terrestre no nosso planeta de há cerca de 3,2 bilhões de anos, graças à descoberta de restos fossilizados de micróbios no Cinturão de Pedras de Barberton, na África do Sul, onde estão preservadas algumas das rochas mais antigas da Terra.
Essa é a prova fóssil mais antiga de seres vivos vivendo na terra, e não na água, já encontrada no nosso planeta, superando em cerca de 500 milhões de anos as evidências anteriores.
As provas geológicas indicam que a vida existia nos oceanos há 3,8 bilhões de anos, mas os sinais de vida terrestre são mais raros. Os cientistas acreditam que isto se deve ao fato de a maior parte do planeta ter estado submerso há até 3 bilhões de anos.
Uma equipe de pesquisa liderada por Martin Homann, sedimentologista do Instituto Europeu de Estudos Marinhos, descobriu os micróbios fossilizados ao lado de um penhasco rochoso nas montanhas Barberton Makhonjwa, no leste da África do Sul.
“Os fósseis fazem parte de um pedaço de rocha chamado Moodies Group, que representa uma das costas mais antigas do mundo“, destaca o coautor do estudo Stefan Lalonde, geoquímico do Instituto Europeu de Estudos do Mar, na França, em declarações ao site Live Science.
A ideia de que havia vida na terra em tempos tão primitivos na história do planeta existe há décadas, realça o geobiólogo Hugo Beraldi Campesi, da Universidade Nacional Autônoma do México. “O problema sempre foi a falta de provas concretas – até agora”, aponta o cientista.
“Esse trabalho representa o estudo mais antigo e menos ambíguo que temos, até agora, que mostra que já existia vida em terra há 3,2 bilhões de anos”, refere Kurt Konhauser, professor de Ciências da Terra e da Atmosfera na Universidade de Alberta, no Canadá, que não esteve envolvido na pesquisa, em declarações ao portal The Scientist.
“O leito de rio mais antigo da Terra”
Os micróbios encontrados estão extremamente bem preservados, em grossas camadas que se acumulam em seixos, pedras desgastadas pela ação da água ou da areia, um sinal de que os seres viviam em um antigo leito de rio, frisam os pesquisadores no estudo publicado este mês na Nature Geoscience.
“Esse é essencialmente o leito do rio mais antigo da Terra“, diz Lalonde ao Live Science.
Ao contrário de outras evidências de vida terrestre, como as estruturas fossilizadas construídas por bactérias, os fósseis recém-descobertos são os próprios micróbios preservados.
Os fósseis se formaram quando uma camada de sedimento cobriu uma camada de micróbios. Depois disso, outra camada de micróbios cresceu em cima. Com o passar do tempo, as camadas de micróbios e sedimentos se empilharam umas sobre as outras e se preservaram. Os fósseis contêm até matéria orgânica, como átomos de carbono e nitrogênio, que faziam parte dos organismos.
Os pesquisadores analisaram esses isótopos de carbono e nitrogênio e nos compararam com isótopos extraídos de camadas microbianas marinhas fossilizadas próximas. Tanto os valores de isótopos de carbono e nitrogênio das amostras terrestres como das marinhas eram únicos, sugerindo que havia diferenças no metabolismo de micróbios no oceano em comparação com aqueles que viviam em terra.
“Uma análise do tipo de átomos de nitrogênio presentes nos fósseis sugere que os micróbios antigos prosperaram consumindo nitrato, ou um átomo de nitrogênio ligado a três átomos de oxigênio”, sugere Lalonde.
Quando esses micróbios viveram, durante a Era Arqueana, entre 4 bilhões a 2,5 bilhões de anos atrás, a atmosfera da Terra não tinha muito oxigênio. Mas um metabolismo baseado em nitrato é o mais eficiente em termos energéticos, depois de um baseado em oxigênio. O nitrato teria dado aos micróbios muita energia, segundo Lalonde.
Konhauser sugere que os pesquisadores se concentrem agora na fonte do nitrato nas amostras, para descobrir se elas vieram da atmosfera ou através da geração de oxigênio de bactérias fotossintéticas ancestrais.
“As estruturas e composição isotópica dos tapetes microbianos parecem sugerir a presença de micróbios fotossintéticos já existentes em terra. Se os nitratos foram de fato formados pelos micróbios nestes tapetes, então talvez cianobactérias produtoras de oxigênio estivessem por ali neste estágio inicial da história da Terra”, assinala Konhauser.
“A vida poderia não ser tão difícil no Arqueano se já estivéssemos em terra”, acredita Lalonde, notando que o estudo sugere que a paisagem da Terra poderia já estar cheia de vida na época. “Isto confirma que os continentes terrestres estavam totalmente desenvolvidos”, complementa Campesi.
Ciberia // HypeScience / ZAP