Uma equipe internacional de investigadores sequenciou o genoma do solenodonte-hispano-americano, mamífero venenoso e último sobrevivente de uma família de mamíferos que surgiu no tempo dos dinossauros.
O solenodonte-hispano-americano (Solenodon paradoxus), nativo da República Dominicana, é uma espécie rara, não só porque é um dos poucos mamíferos venenosos, mas também o único restante do “galho” de mamíferos que se separou de outros insetívoros, no momento da extinção dos dinossauros.
A sequenciação e a análise do genoma desse animal em risco de extinção foram realizadas por uma equipe liderada por Taras K. Oleksyk, da Universidade de Porto Rico em Mayagüez, em que participou o geneticista Agostinho Antunes, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, e seu aluno de doutorado, Filipe Silva.
Os resultados, publicados na semana passada na revista GigaScience, permitiram responder a várias questões evolutivas, particularmente se a espécie realmente sobreviveu ao cataclismo que exterminou os dinossauros. A extinção dos dinossauros é geralmente atribuída à colisão de um meteorito no Iucatã, no Golfo do México, há 65 milhões de anos.
Os pesquisadores decodificaram alguns dos genes que se pensa estarem envolvidos na produção do veneno destes enigmáticos mamíferos. Segundo o estudo, o veneno do Solenodon paradoxus flui de glândulas salivares modificadas através de sulcos nos incisivos afiados.
A espécie tem ainda outras características primitivas e muito raras em mamíferos: garras muito grandes, um focinho flexível com a extremidade em forma de bola e glândulas mamárias posicionadas na parte traseira do animal.
Após a sequenciação do genoma, os cientistas concluíram que houve uma divisão de subespécies do solenodonte-do-haiti há pelo menos 300 mil anos, o que significa que as subespécies do Norte e do Sul devem ser tratadas como duas unidades de conservação separadas e com estratégias de proteção distintas.
Os pesquisadores destacam que, embora a “árvore da vida” da classe dos mamíferos tenha sido fortemente investigada, este é o ramo mais remoto a ser adicionado ao “clube do genoma” dos mamíferos.
O Homo sapiens foi o primeiro mamífero a ter o genoma decodificado, em 2001.
Altamente ameaçados, os solenodontes-hispano-americanos sobrevivem em apenas alguns locais remotos das ilhas de Cuba e Hispaniola (compartilhada entre o Haiti e a República Dominicana), no Caribe.
Os hábitos noturnos desses animais tornam difícil seu estudo no habitat natural e, de acordo com os cientistas, além da dificuldade de encontrar exemplares para obter amostras de sangue, o genoma do solenodonte-hispano-americano provou ser “particularmente difícil de sequenciar”.
Ciberia // ZAP