As primeiras amostras de material genético das ossadas encontradas no cemitério de Perus, em São Paulo, em 1990, serão enviadas ainda este mês para análise de DNA em um laboratório internacional. A informação foi confirmada à Agência Brasil por Javier Amadeo, representante da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no Comitê Gestor do Grupo de Trabalho Perus.
“Esperamos que, agora, com o envio dessa amostra do DNA, consigamos ter as informações completas para ver se é possível a identificação das 41 pessoas que estão sendo procuradas”, disse.
O laboratório contratado pelo grupo de trabalho – International Comission on Missing Persons (ICMP) – tem experiência em casos de identificação de pessoas por DNA com amostras ósseas degradadas e também em trabalhar em casos de identificação de pessoas desaparecidas em contextos de violações de direitos humanos.
De acordo com Amadeo, cerca de 60% das 1.049 ossadas retiradas da vala clandestina de Perus já foi analisada pelos peritos do grupo. “Em torno de 25% a 30% dessas caixas já está comprovado que existe mais de um indivíduo. O total de indivíduos só conseguiremos saber, com certeza, no final do processo de identificação”, explicou.
Não há um prazo definido para o final do trabalho, mas a expectativa é que parte do processo de análise seja concluída até o final de 2018.
O trabalho de identificação das ossadas que está sendo realizado atualmente pelo grupo de trabalho consiste, basicamente, em três etapas.
“São fundamentalmente três etapas: de pesquisa, onde são consultados documentos, arquivos, cemitérios e feitas entrevistas com os familiares das vítimas para conseguir dados como estatura, sexo, idade e características individualizadas; de análise antropológica e antropométrica, onde são tomadas essas medidas e calculado idade, sexo e estatura das ossadas; e o processo de cruzamento dos dados, onde é analisado se aquela ossada tem característica compatível com as pessoas que estão sendo procuradas. A partir dessas informações são selecionadas as amostras que serão enviadas para o exame de DNA”, explicou.
Falta de recursos
Segundo Amadeo, apesar dos recursos escassos, o trabalho de identificação das 1.049 ossadas encontradas em uma vala do Cemitério de Perus, em 1990, continuam.
“Sofremos redução na quantidade de pessoas contratadas por cortes no orçamento. Também tivemos dificuldades porque os repasses que seriam feitos pelo Ministério da Educação para a Unifesp não foram feitos. Apesar dessas dificuldades e das mudanças de governo, conseguimos que o trabalho não parasse em nenhum momento”, disse.
“Atualmente, existem oito pessoas contratadas pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos [atual Ministério dos Direitos Humanos], com dedicação exclusiva a esse processo de identificação. E tem os peritos rotativos que são cedidos pelos estados, cedidos pela Secretaria Nacional de Segurança Pública”, acrescentou.
Vala
A vala clandestina de Perus foi aberta em setembro de 1990 durante a gestão de Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo. No local, foram encontradas 1.049 ossadas sem identificação de vítimas de esquadrões da morte, indigentes e de presos políticos.
À época, a prefeitura determinou a apuração dos fatos e fez um convênio com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a identificação das ossadas. Os trabalhos na Unicamp conseguiram identificar apenas 12 pessoas. O trabalho foi interrompido e, em 2002, as ossadas foram levadas para o Cemitério do Araçá, na capital paulista, sob responsabilidade da Universidade de São Paulo (USP).
Em 2014, uma parceria da Secretaria Especial de Direitos Humanos – hoje, Ministério dos Direitos Humanos –, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) permitiu a retomada do trabalho de identificação dos restos mortais resgatados da vala clandestina do cemitério de Perus.