Morte de Marielle completa um mês sem respostas

Marcelo Camargo / Agência Brasil

Sessão de solidariedade à vereadora Marielle Franco, e ao motorista Anderson Gomes, assassinados no centro do Rio de Janeiro

O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completa, neste sábado (14/04), um mês sem respostas. O caso, que levou multidões às ruas no mundo todo para manifestar solidariedade e cobrar explicações, é tratado com absoluto sigilo pelos investigadores.

Nos últimos dias, uma nova execução e evidências encontradas pela equipe da Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil do Rio e do Ministério Público (MP) estadual reforçaram as suspeitas sobre duas linhas de investigação, ligadas ao envolvimento de milicianos e colegas de Marielle na Câmara do Rio.

Policiais civis e federais que investigam o caso colheram digitais parciais em nove cápsulas encontradas por peritos no local do crime. As marcas podem ter sido deixadas pelo autor dos disparos ou o responsável por inserir os projéteis na pistola 9mm utilizada para executar Marielle e Anderson.

Entre o material analisado, havia um único projétil que não integrava o lote de munições UZZ 18, desviado da Polícia Federal. De acordo com investigadores ouvidos pelo jornal O Globo, trata-se de uma munição que integra um carregamento importado, com características especiais, semelhantes à de uma outra cápsula encontrada no caso de um homicídio que aconteceu no município de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio.

Um dos agentes ouvidos pelo jornal afirmou que “há DNA de um grupo paramilitar no crime”. Por estarem fragmentadas, as digitais não podem ser comparadas com a base de dados das polícias Civil e Federal. Entretanto, seria possível confrontá-las com as de um eventual suspeito.

A análise das cápsulas remonta a outros crimes praticados na região metropolitana. O uso de munição do lote UZZ 18 foi detectado em três dos 14.574 homicídios dolosos registrados no estado entre 2014 e 2017. As ações, que resultaram em cinco mortes, ocorreram em São Gonçalo, Niterói e na divisa entre os dois municípios.

Após a repercussão da notícia, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ter observado avanços nas investigações sobre os assassinatos de Marielle e Anderson. De acordo com o ministro, as equipes que trabalham no caso estão confiantes em identificar os responsáveis por ordenar a execução da vereadora.

“Houve um afunilamento das hipóteses. Quando converso com os investigadores, sinto que estão animados, confiantes em conseguir colocar na cadeia não só os que executaram, mas também chegar aos mandantes desse crime que chocou a todos nós“, comentou.

Em 6 de abril, o comandante da intervenção federal no Rio de Janeiro, general Braga Netto, revelou avanços na investigação após reunião com o presidente Michel Temer. Na ocasião, demonstrou otimismo com o desfecho do caso nos próximos dias. Segundo o general, após ouvir o relato, Temer afirmou que a prisão dos assassinos da vereadora é considerada de extrema importância para o governo.

Nova execução

Com o objetivo de investigar a rotina de Marielle na Câmara Municipal do Rio, a DH da Polícia Civil tem intimado vereadores a depor sobre o caso. Até agora, oito já foram ouvidos, de um total de 14 chamados.

No domingo passado, dois dias após Marcello Siciliano (PHS) prestar depoimento por três horas aos agentes da DH, um líder comunitário que prestava serviços para seu mandato foi assassinado. Carlos Alexandre Pereira Maria, de 37 anos, era suspeito de ligação com uma milícia da Zona Oeste da cidade.

Em seu perfil no Facebook, ele se identificava como “assessor parlamentar” de Siciliano. À imprensa, o vereador lamentou sua morte e frisou que se tratava apenas de um colaborador.

Entre os vereadores intimados pela DH, havia correligionários de Marielle, como Tarcísio Motta, candidato do Psol a governador no último pleito estadual, e adversários políticos. Siciliano se incluía no segundo grupo. Ele foi citado em um relatório da Secretaria de Segurança sobre a influência de milicianos nas eleições de 2014, quando se candidatou a deputado estadual, sem sucesso.

Amigo pessoal da vereadora, Tarcísio manifestou confiança nas investigações ao prestar depoimento na última quinta-feira.

“Não temos nenhum elemento até o momento que desabone a atuação do chefe de polícia ou da DH. Não há nada que aponte para negligências ou morosidade proposital na apuração. Como éramos do mesmo partido e tínhamos intimidade, me fizeram perguntas sobre a atuação parlamentar da Marielle, a rotina dela e as atividades políticas”, explicou.

Família participa de missa no Rio

Uma missa celebrada hoje (14) na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no centro do Rio, na data em que marca um mês do assassinato de Marielle Franco, reuniu amigos e parentes da vereadora do PSOL.

O pai de Marielle, seu Antônio Francisco da Silva, disse que tem sido difícil seguir adiante, mas as homenagens e o apoio de amigos têm ajudado a amenizar o sofrimento.

Calaram a voz da minha filha covardemente. Sempre vou dizer covardemente, porque não deram nenhuma chance de defesa para a minha filha. Então, eles foram muito covardes nesse ato”, disse após a missa.

A mãe de Marielle, Marinete da Silva, falou sobre a angústia da espera pela elucidação do assassinato: “É duro. São 30 dias nessa espera, com a expectativa de que vai conseguir resolver de alguma maneira”, disse.

“Para mim, para a sociedade, para a família toda. A gente espera uma resposta porque não tem explicação para o que fizeram com a minha filha. Foi cruel. Acho que para todos que conheciam a história dela e para mim, como mãe, é muito difícil. Tem sido dias de muita dor e muito luto para a gente”, acrescenta.

Para Marinete, o assassinato da filha além de ser cruel foi “macabro”. “Não se cogita em época nenhuma se enterrar filho e eu enterrei minha filha de uma maneira precoce, trágica e dolorosa demais pelo que fizeram”, disse.

As manifestações e homenagens que estão ocorrendo mundo a fora também são motivo de força para a família.

“A gente tem se apegado muito a isso e é unir forças mesmo. Enquanto o mundo clamar, vamos esperar por uma resposta. A gente quer e precisa”, disse Marinete ao ressaltar que confia no trabalho de investigação: “Eu confio muito no trabalho que está sendo feito e vou confiar sempre que eles vão resolver o crime”.

Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados em 14 de março após a vereadora ter participado de um debate com mulheres negras no bairro da Lapa, região central do Rio. O crime aconteceu no Estácio, a poucos quilômetros dali, onde o carro foi alvejado por nove disparos, dos quais quatro atingiram a vereadora.

De acordo com correligionários e familiares, ela não vinha sofrendo perseguição no período que antecedeu o crime. Alguns dias antes, ela havia denunciado a violência do 41º Batalhão de Polícia Militar na favela de Acari, Zona Norte da cidade.

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1 COMENTÁRIO

  1. Há muitos crimes que fizeram vários aniversários sem resposta. Por que não têm prioridade na investigação sobre esse?

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