Ovos são bons ou ruins para a saúde? A resposta para essa pergunta não é simples. A ciência tem debatido este tópico há anos, com resultados mistos. Nos últimos tempos, parecia que um consenso estava se formando em torno da ideia de que os ovos não são vilões.
Agora, um novo estudo da Universidade Northwestern (EUA) descobriu que as pessoas que ingerem 300 miligramas de colesterol por dia têm um risco maior de doença cardíaca e morte prematura em comparação com aqueles que ingerem menos (o que pode ser representado por três ou quatro ovos a menos por semana).
“Os ovos, especialmente a gema, são uma fonte importante de colesterol dietético”, escreveu Victor Zhong, principal autor do estudo. Um único ovo grande contém cerca de 186 miligramas de colesterol.
Segundo Zhong, uma razão potencial para resultados inconsistentes no passado foi o fato de que outros estudos não levaram em conta que o consumo de ovos pode estar relacionado a outros comportamentos não saudáveis, como baixa atividade física, tabagismo e uma dieta insalubre.
Além disso, os alimentos que contêm colesterol são geralmente ricos em gordura saturada e proteína animal. “Em contraste, o estudo atual incluiu uma avaliação abrangente desses fatores”, explicou.
Os pesquisadores examinaram dados de seis grupos de estudo dos EUA, incluindo mais de 29.000 pessoas seguidas por 17 anos e meio, em média. Durante o período de acompanhamento, um total de 5.400 eventos cardiovasculares ocorreram, incluindo 1.302 derrames, 1.897 incidentes de insuficiência cardíaca e 113 outras mortes por doenças cardíacas. Outros 6.132 participantes morreram de outras causas.
Consumir mais 300 miligramas de colesterol dietético por dia foi associado a um risco 3,2% maior de doença cardíaca e um risco 4,4% maior de morte precoce.
Cada meio ovo adicional consumido por dia foi associado com um risco 1,1% maior de doença cardiovascular e 1,9% maior de morte prematura devido a qualquer causa.
Será que temos que comer menos ovos?
Em um editorial publicado junto com o estudo, o Dr. Robert H. Eckel, da Universidade do Colorado (EUA), explicou que esse assunto é importante para médicos, pacientes e o público em geral.
“A associação entre o consumo de ovos e o colesterol dietético com [doença cardiovascular], embora debatida há décadas, tem sido considerada mais recentemente como menos importante. No entanto, em comparação com análises previamente publicadas, o novo relatório é muito mais abrangente, com dados suficientes para afirmar que os ovos e a ingestão dietética global de colesterol continuam a ser importantes para afetar o risco de doença cardiovascular e mortalidade por todas as causas”, escreveu.
Vale notar que a relação entre ovos e riscos de doenças cardíacas e morte precoce é apenas “modesta”. Apesar disso, “considerando as consequências negativas do consumo de ovos e do colesterol dietético no cenário de padrões alimentares saudáveis para o coração, a importância de limitar a ingestão de alimentos ricos em colesterol não deve ser descartada”, concluiu.
Zhong e seus coautores concluíram similarmente que “estes resultados devem ser considerados no desenvolvimento de diretrizes e atualizações dietéticas”.
Victoria Taylor, nutricionista da Fundação Britânica do Coração, disse ao Science Media Center que “este tipo de estudo só pode mostrar uma associação, ao invés de causa e efeito, e mais pesquisas são necessárias para entender as razões por trás desta ligação”.
“Os ovos são um alimento nutritivo e, embora este estudo se concentre na quantidade que estamos comendo, é tão importante quanto prestar atenção em como os ovos estão sendo preparados [por exemplo, um ovo frito certamente é pior para a saúde que um cozido, comido sem sal] e nas guarnições que os acompanham”, disse.
“Comer de forma saudável é sobre equilíbrio”. Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista médica JAMA.
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