A investigação da Polícia Civil do Rio Grande do Sul sobre o caso da jovem que, no início do mês, tinha uma cruz suástica marcada no corpo foi encerrada com a conclusão de que a mulher forjou a mutilação.
A imagem da mulher com um desenho riscado na pele foi compartilhada à exaustão em grupos do WhatsApp, no Facebook e no Twitter no dia 10 de outubro.
Trata-se de uma moradora de Porto Alegre que disse ter sido agredida por três homens por causa de uma camiseta com a frase “Ele não” – referência ao movimento contra o candidato Jair Bolsonaro.
De acordo com a jovem, cujo nome não foi revelado por questões de segurança, o grupo a agrediu com socos e usou um canivete para desenhar a cruz suástica na sua barriga.
Porém, na quarta-feira (24), a polícia encerrou o caso, divulgando a conclusão: o crime foi forjado. Segundo o Instituto Geral de Perícias gaúcho, todos os indícios apontam que a jovem teria se automutilado ou que teria sido mutilada por outra pessoa, mas com consentimento.
Os ferimentos superficiais e de profundidade uniforme, escreve a Folha de S. Paulo, dificilmente seriam produzidas se a vítima tivesse “preservado sua capacidade de reação, seja por medo, susto ou reflexo”.
Paulo César Jardim, responsável pelo caso, afirmou que a jovem, uma estudante de 19 anos, é uma pessoa “doente, debilitada emocionalmente“, que toma medicamentos psiquiátricos “fortíssimos”. De acordo com o chefe da polícia, a brasileira apenas denunciou o caso às autoridades porque uma amiga queria divulgar a agressão nas redes sociais.
A polícia notou ainda que havia contradições no relato da agressão, uma vez que a jovem contou que tinha sofrido outros ferimentos causados por socos, mas não apresentava lesões físicas. Além disso, nenhuma pessoa que esteve no local da suposta agressão viu qualquer movimentação semelhante ao denunciado pela brasileira.
“Em nenhuma das câmeras aparece qualquer tipo de agressão e muito menos a possível vítima. Doze câmeras, com mais de duas horas de filmagem e nenhuma delas aparece”, explicou Jardim.
O chefe da polícia causou polêmica no caso ao dizer que a marca era um “símbolo budista, de amor e fraternidade”, o que era verdade para diversas culturas na Índia. Contudo, a suástica é um símbolo nazista.
O outro lado
A advogada da jovem de 19 anos, Gabriela Souza, afirmou em nota que qualquer conclusão antes de esgotada a avaliação de todos os elementos possíveis “pode não representar a realidade dos fatos”.
Souza pretende que as pessoas que prestaram auxílio à jovem sejam ouvidas e que sejam apresentadas as imagens das câmeras de segurança da zona.
Por outro lado, a advogada defende que as lesões, que, segundo a polícia, teriam sido produzidas sob “alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em reagir”, o que seria compatível com uma situação de estresse pós-traumático. “Apenas comprova o teor do depoimento da vítima”, defende Gabriela Souza.
O procedimento será enviado à Justiça e a jovem teria que responder à falsa comunicação de crime.
Caso usado contra Bolsonaro na campanha de Haddad
O caso ganhou grande repercussão por ter ocorrido no dia seguinte ao primeiro turno de eleição para a presidência brasileira, ao ser relacionado com violência política. A foto das marcas no corpo da jovem chegou a ser mostrada no horário eleitoral de Fernando Haddad, numa parte sobre a violência política pelo país no segundo turno.
Bolsonaro, após a divulgação da conclusão policial, disse no Twitter que estava à espera da retratação de quem associou a ocorrência ao seu nome e aos seus apoiantes. O candidato alegou ainda que as denúncias tinham sido “orquestradas por eleitores dos adversários”.
Contudo, o delegado descartou a hipótese de a jovem ter forjado a situação com intenções políticas, isto é, como meio de prejudicar a campanha de Jair Bolsonaro.
Ciberia // ZAP