O líder oposicionista russo Alexei Navalny, preso desde janeiro, compareceu nesta quinta-feira (29/04) a uma audiência legal por meio de um link de vídeo, na primeira aparição pública desde o anúncio do fim de uma greve de fome, na sexta-feira passada.
Navalny, um dos maiores críticos do presidente Vladimir Putin, passou 24 dias sem comer para protestar contra a recusa das autoridades em permitir que ele fosse examinado por um médico particular. Ele reclamava de fortes dores nas costas e dormência nas mãos e nas pernas.
Nos vídeos, foi possível ver Navalny bastante abatido, magro e com a cabeça raspada. A audiência está ligada a uma sentença de difamação que Navalny recebeu em fevereiro por insultar um veterano da Segunda Guerra Mundial.
“Fui levado a uma casa de banho ontem [quarta-feira]. Havia um espelho lá. Eu me olhei: sou apenas um esqueleto horrível”, disse Navalny ao tribunal, de acordo com uma gravação de áudio divulgada pelo canal de televisão independente Dozhd.
Na audiência, Navalny voltou a criticar Putin. “Eu gostaria de dizer, minha querida Corte, que o seu imperador está nu. E não é apenas um garotinho gritando isso, que o imperador está nu”, disse ele.
“Há uma coroa que escorrega nas orelhas. Há toneladas de mentiras na televisão. E há, é claro, uma enorme riqueza pessoal”, acrescentou Navalny.
O tribunal manteve a decisão contra o líder oposicionista, ordenando-o a pagar multas no total de 850 mil rublos, o equivalente a cerca de R$ 60 mil.
A equipe jurídica de Navalny disse que levará o caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
Fechamentos de escritórios
Na segunda-feira, autoridades russas ordenaram a suspensão das atividades de uma organização ligada a Navalny. Uma audiência no tribunal, supostamente marcada para 17 de maio, analisará um pedido dos promotores para classificar a organização de Navalny como extremista, assim como o Estado Islâmico e as Testemunhas de Jeová.
No começo desta quinta-feira, a equipe de Navalny disse que estava oficialmente desativando seus escritórios de campanha em todo o país.
Enquanto fazia campanha para concorrer contra Putin nas eleições presidenciais de 2018, Navalny montou uma rede de escritórios em dezenas de regiões para promover sua causa. Embora ele tenha sido impedido de concorrer, os escritórios permaneceram e continuaram investigando suborno por autoridades locais, entre outras coisas.
Para críticos, os procedimentos legais contra a fundação são um esforço do regime de Putin para eliminar uma grande ameaça ao poder do presidente.
Ivan Zhdanov, chefe da Fundação para o Combate à Corrupção, disse, em uma transmissão no YouTube nesta quinta-feira, que as atividades da organização não vão cessar, mesmo se o tribunal decidir que o grupo é extremista.
Leonid Volkov, o chefe dos escritórios regionais da fundação, afirmou que a rede seria dissolvida, alegando que o trabalho nas condições atuais é “impossível”. Por outro lado, ele disse que as atividades da fundação poderiam ser retomadas, com o apoio de várias organizações políticas independentes.
Por que Navalny está na prisão?
Navalny foi preso em janeiro em Moscou ao retornar da Alemanha, onde passou cinco meses se recuperando de um envenenamento por um agente nervoso desenvolvido na época da União Soviética. Ele acusa o Kremlin de tentar matá-lo. O governo russo nega.
No começo de fevereiro, um tribunal da Rússia sentenciou Navalny a dois anos e meio de prisão. A Justiça alegou que o ativista, em sua estadia na Alemanha, violou as condições de sua liberdade condicional relacionada a uma sentença proferida em 2014, ao não se apresentar regularmente para as autoridades.
A sentença original envolve um suposto caso de fraude, num processo que foi considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
A nova prisão de Navalny foi o estopim para protestos contra o Kremlin. Milhares de pessoas saíram às ruas em dezenas de cidades para exigir a libertação do ativista e demonstrar insatisfação com o governo autoritário do presidente Putin. A reação das autoridades foi dura, e mais de 10 mil pessoas foram detidas.
Ciberia // Deutsche Welle