Negociações pós-Brexit continuam mas divórcio sem acordo é o mais provável, alerta Boris Jonhson

Chatham House / Wikimedia

Boris Johnson, o novo primeiro-ministro britânico

A União Europeia (UE) e Reino Unido concordaram neste domingo em prosseguir com as negociações pós-Brexit, em Bruxelas, para evitar um divórcio brutal entre os dois em 31 de dezembro. Mas o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson advertiu que, em sua opinião, o cenário “mais provável ” é fracasso das discussões por um acordo sobre as futuras relações comerciais entre Londres e Bruxelas.

Boris Johnson fez a declaração depois de ter anunciando em um breve comunicado conjunto com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o prosseguimento das negociações, que deveriam ter sido encerradas hoje.

“Nossas equipes de negociação trabalharam dia e noite nos últimos dias e, apesar do cansaço após quase um ano de discussões, embora prazos não tenham sido descumpridos, acreditamos que é responsável continuar“, destacaram os dois líderes. “Em consequência, pedimos a nossas equipes que prossigam com as conversas para ver se um acordo é possível, mesmo nesta etapa tardia”, completaram.

Antes do anúncio, Johnson e Von der Leyen tiveram uma conversa por telefone que foi considerada “útil”. Na quarta-feira (9), os dois líderes haviam concordado que os negociadores fariam um novo esforço em Bruxelas e que este domingo seria o prazo final para uma decisão sobre o pós-Brexit. A definição, no entanto, foi continuar dialogando.

Comprometido com o diálogo

Apesar de pessimista, o primeiro-ministro britânico afirma estar comprometido nas negociações com a UE em busca de um acordo comercial. “Eu receio que ainda estamos muito distantes em alguns pontos importantes, mas onde há vida há esperança”, declarou Boris Johnson à imprensa. “Temos que nos preparar para os termos da OMC” (Organização Mundial do Comércio), completou o chefe de Governo conservador.

O Reino Unido sairá de maneira definitiva do mercado único e da união alfandegária em 31 de dezembro. Sem um acordo, a partir de 1º de janeiro as relações comerciais entre Londres e Bruxelas serão administradas pelas normas da OMC, um cenário de consequências econômicas imprevisíveis que inclui tarifas e cotas. O premiê britânico acredita “ser necessário conversar com outras capitais”.

Longo caminho pela frente

Ainda há um longo período pela frente“, repetiu neste domingo o ministro das Relações Exteriores e negociador britânico, Dominic Raab, ao canal Sky News. “Algumas propostas, algumas sugestões que nos fizeram, são bastante extravagantes, francamente, e não se tornam mais razoáveis com a repetição”, afirmou.

A chanceler espanhola, Arancha González, pediu que uma ruptura sem acordo seja evitada a qualquer custo. “Nas atuais circunstâncias, em plena pandemia de Covid-19, seria extremamente negativo para nossas economias”, declarou a Sky News, recordando que “o Reino Unido sofreria mais que a União Europeia”.

O primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, cujo país seria o mais afetado da UE por um Brexit sem acordo, também pediu a continuidade dos esforços. “Seria um fracasso político se conseguíssemos um acordo”, declarou à BBC.

O presidente da Câmara Britânica do Comércio, Ruby McGregor, disse que o Reino Unido precisa de um acordo “o mais rápido possível”. “Precisamos entender como vamos negociar e sob quais regras”, disse.

Anos de negociações

O Reino Unido abandonou oficialmente a UE em 31 de janeiro e a partir de março Londres e Bruxelas começaram a negociar um acordo comercial que deveria entrar em vigor em 1 de janeiro de 2021.

Mas três questões emperram as negociações: o acesso dos navios pesqueiros europeus a águas territoriais britânicas, as normas de concorrência para o acesso de empresas britânicas ao mercado europeu e o futuro mecanismo de solução de divergências. Segundo especialistas, a definição sobre as normas de concorrência é a que apresenta os maiores desafios.

Londres acusou nas últimas semanas Bruxelas de endurecer repentinamente sua posição, talvez motivada pelo temor de países como a França – que ameaçou vetar o acordo – de fazer muitas concessões para obter “um acordo a qualquer preço“. A UE negou qualquer mudança de atitude.

Em um sinal do aumento da tensão, Londres informou no sábado (12) que quatro navios da Marinha Real estão de prontidão para proteger as zonas de pesca nacionais, em caso de fracasso das negociações.

Quatro anos e meio depois do histórico referendo de 2016 em que o Reino Unido decidiu por 52% dos votos acabar com quase cinco décadas de uma relação tensa com a UE e tornar-se o primeiro país a sair do bloco, o suspense permanece. A saída enfraquece a unidade do Reino Unido, dando argumentos aos independentistas da Escócia, uma nação de 5,5 milhões de habitantes pró-europeus e que votaram em sua maioria contra o Brexit.

Durante a semana, a UE apresentou medidas de emergência se não houver um acordo. O objetivo é manter o bom funcionamento do transporte terrestre e aéreo durante seis meses, desde que Londres faça o mesmo, e garantir que os barcos de pesca tenham acesso às águas dos dois lados em 2021. O plano será examinado na quarta-feira (16) no Parlamento Europeu.

// RFI

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