Uma nova pesquisa sugere que o número de suicídios nos Estados Unidos aumentou logo a seguir à morte do famoso ator norte-americano, em 2014.
De acordo com o estudo, publicado esta semana na revista científica PLOS One, nos cinco meses depois da morte de Robin Williams, em agosto de 2014, houve mais 10% de casos de suicídio nos EUA do que era esperado.
Os pesquisadores da Universidade de Columbia que analisaram os efeitos da morte do ator recolheram dados mensais de suicídios registrados pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos EUA (CDC) entre 1999 e dezembro de 2015, para verificar se houve alguma subida inesperada em um determinado período.
A equipe percebeu que 18.690 pessoas cometeram suicídio entre agosto e dezembro desse ano, quando eram esperados apenas 16.849 casos, com base nesta série histórica. Ou seja, houve 1.841 suicídios a mais do que o previsto.
O potencial risco de as pessoas copiarem o comportamento das celebridades que se suicidam já é conhecido das autoridades de saúde pública. Não é possível dizer com certeza se a morte do ator foi o que provocou o aumento, mas os fatos parecem ter alguma ligação.
Exposição excessiva na mídia
Especialistas dizem que a cobertura “irresponsável” de suicídios pela mídia pode ter grande influência no aumento de casos entre a população em geral.
Na época, várias organizações de apoio a pessoas com depressão alertaram para o grande número de reportagens que davam mais detalhes sobre a forma como o ator morreu, uma violação das diretrizes para a cobertura deste tipo de casos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e vários códigos de imprensa aconselham os órgãos de comunicação a não entrar em muitos detalhes sobre os métodos usados por pessoas que se suicidam. Os pesquisadores dizem que várias “evidências substanciais” mostram que a mídia violou essas regras.
Nas semanas que se seguiram à morte do ator, houve um “drástico” aumento nas referências a suicídio e morte em reportagens, bem como mais publicações em um fórum online sobre suicídio que foi controlado pelos cientistas.
David Fink, da Universidade de Columbia e um dos autores do estudo, diz que a pesquisa reforça a tese de que as taxas de suicídio aumentam quando uma celebridade o faz, especialmente quando a história é amplamente noticiada pela mídia.
“Quando as pessoas veem uma pessoa que conhecem, podem acabar se identificando com essa experiência. E adquirem a habilidade de agir. É aí que a imprensa entra“, diz Fink.
“Quanto mais pessoas ficarem sabendo de detalhes específicos, haverá, potencialmente, mais casos de identificação (com a decisão de se suicidar)”, acrescenta.
Os pesquisadores admitem que existe a possibilidade de outro evento ter influenciado o aumento nas taxas de suicídio, mas afirmam que é algo “improvável”.
A influência das celebridades
No ano passado, a Netflix inseriu mensagens de alerta na série “13 Reasons Why”, que aborda o tema do suicídio entre adolescentes, devido ao receio de que os espectadores mais jovens fossem influenciados pelo comportamento da personagem principal.
“O estudo traz sinais científicos de que a divulgação irresponsável ou a transmissão detalhada de cenas de suicídio podem ter um efeito devastador”, diz Lorna Fraser, do Samaritanos, uma ONG de aconselhamento sobre suicídio.
“No caso das celebridades, a possibilidade de alguém vulnerável fazer uma ligação afetiva e se identificar com a decisão é ainda maior. Em alguns casos, podem até interpretar a morte da celebridade como um sinal de que devem tirar a própria vida”.
A influência das celebridades – positivas ou negativas – não deve ser subestimada, diz Robert Music, diretor do Jo’s Cervical Cancer Trust, entidade de apoio a quem tem câncer do colo do útero.
Exemplo disso foi a morte da atriz britânica, Jade Goody, diagnosticada com esse tipo de câncer em 2009, que levou 400 mil mulheres a mais do que era esperado a fazerem exames para detectar se tinham o mesmo problema. Goody falou publicamente sobre a doença e a importância dos exames de prevenção.
Ciberia // ZAP