Manchas escuras nas nuvens de Vênus podem ser sinais de vida

NASA

Vênus

Os astrônomos já fizeram uma lista com todos os planetas e luas candidatos a abrigar vida no sistema solar e Vênus não seria um deles. Mas sua atmosfera pode contradizer a informação.

Com sua pressão atmosférica esmagadora e temperaturas de superfície escaldantes, nosso vizinho menos famoso parece um lugar improvável para ser o lar de seres vivos. Mas um novo estudo mostra que estamos olhando para o lugar errado: enquanto a superfície do planeta permanece completamente inóspita, a atmosfera de Vênus pode ser capaz de abrigar vida microbiana.

Vênus é um inferno, mas nem sempre foi assim. Os modelos climáticos sugerem que o segundo planeta depois a partir do Sol já teve água líquida na superfície e um clima habitável por mais de 2 bilhões de anos, tempo suficiente para a vida evoluir.

Porém, em algum momento no passado, tudo “desandou”. Devido a um efeito descontrolado dos gases de efeito estufa, toda a água de Vênus evaporou na atmosfera, o que, por sua vez, aumentou ainda mais o efeito de aquecimento.

Hoje, as temperaturas na superfície excedem os 450º C, e a pressão atmosférica é 92 vezes mais pesada do que a da Terra.

Se a vida tivesse surgido em Vênus durante aquele período em que o planeta era minimamente habitável, essa reviravolta cataclísmica provavelmente acabaria com todos os seres vivos, grandes ou pequenos.

Mas a pesquisa publicada essa semana na revista Astrobiology aponta que há outra possibilidade: segundo os cientistas, alguns micro-organismos podem ter ido parar nas nuvens que cobrem Vênus, onde as condições ambientais são surpreendentemente estáveis.

Hoje, a pesquisa sugere que podemos ver estes possíveis micróbios sobreviventes em manchas escuras na camada inferior de nuvens de Vênus. O principal autor do novo estudo, Sanjay Limaye, do Centro de Ciência e Engenharia Espacial da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, afirma que eles não estão dizendo que há vida em Vênus, mas o novo artigo sugere que devemos procurar sinais de vida nas nuvens do planeta.

A ideia de que a vida possa existir nas nuvens de Vénus não é novidade. O astrônomo Carl Sagan propôs pela primeira vez a ideia em 1967. Anos depois, em 1997, o astrobiólogo David Grinspoon reforçou a possibilidade.

Essa linha de pesquisa em grande parte estagnou devido à falta de evidências, mas um artigo de 1999 sugeriu que condições em altas altitudes congelariam, mas não matariam a vida microbiana.

Um estudo de 2004 concluiu que as condições químicas nas nuvens de Vênus ficam dentro dos limites da habitabilidade, na camada entre 48 e 52 quilômetros, onde as temperaturas oscilam entre os zero e os 60ºCº, a pressão atmosférica varia entre 0,4 a 2 atm e as nuvens são salpicadas com compostos amigáveis ​​à vida, como enxofre, aerossóis ácidos e dióxido de carbono.

Além disso, há algo muito estranho naquelas nuvens: as estranhas manchas escuras de Vênus, que foram detectadas pela primeira vez há quase um século. Quando vistas em luz ultravioleta, essas manchas escuras exibem vestígios de ácido sulfúrico concentrado e outras partículas desconhecidas que absorvem luz. Essas manchas persistem por dias, mudando frequentemente de forma e contraste.

Como o novo artigo aponta, alguns micróbios da Terra são capazes de prosperar em ambientes ácidos, alimentando-se de dióxido de carbono e produzindo ácido sulfúrico, condições similares às das nuvens de Vênus.

Também sabemos de bactérias com propriedades de absorção de luz. É concebível que conglomerados maciços desses microrganismos transportados pelo ar possam explicar as enigmáticas manchas escuras em Vênus.

Alguns micro-organismos da Terra, principalmente bactérias, são arrastados para a atmosfera, onde podem permanecer vivos em alturas de até 41 quilômetros.

Talvez algo como isso tenha acontecido em Vênus e os micro-organismos tenham ficado nas nuvens desde que os oceanos se dissiparam. Essa ideia não é tão maluca como parece. Em Tso Kar, um lago salgado de alta altitude no norte da Índia, as bactérias são frequentemente sopradas para a atmosfera.

Ainda não sabemos se realmente existe vida nas nuvens de Vênus. Nossos instrumentos não conseguem discernir se as partículas são orgânicas ou inorgânicas por natureza. Mas é certamente uma ideia que vale a pena explorar.

Uma maneira de fazê-lo é implantar a Plataforma Manobrável Atmosférica de Vênus (VAMP) – um projeto de planador robótico da NASA que voaria como um avião, mas flutuaria como um dirigível pelas nuvens do planeta.

Uma vez levado até a atmosfera de Vênus, o VAMP ficaria no ar por cerca de um ano, recolhendo dados e amostras. Pode até ser equipado com uma variedade de sensores, incluindo um instrumento que pode identificar micro-organismos vivos.

É possível que o VAMP seja incluído na missão russa Roscosmos Venera-D, que deve ser lançada no final dos anos 2020.

Parece quase impossível acreditar, mas nosso vizinho planetário mais próximo pode realmente ser um dos melhores candidatos para a vida no Sistema Solar fora da Terra.

“Nossas análises comparativas apoiam as hipóteses de que a biologia de tipo terrestre pode sobreviver dentro e contribuir para as assinaturas espectrais das nuvens de Vênus. Para testar as ideias apresentadas, propomos a necessidade de um estudo químico, bioquímico e microbiológico integrado com foco na sobrevivência e espectroscopia de micro-organismos terrestres sob as condições das nuvens de Vênus”, propõem os autores no estudo.

Ciberia // HypeScience / ZAP

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