O motivo de 500 milhões de anos por trás do cheiro de chuva

O cheiro de terra molhada inspira artistas e também provoca a curiosidade de pesquisadores. O aroma tão característico depois de chover pode ser provocado por bactérias. Esse pode ser um exemplo de comunicação química de mais de 500 milhões de anos, que evoluiu para ajudar um tipo de bactéria a se disseminar.

De acordo com artigo publicado na Nature Microbiology por equipe internacional de pesquisadores, essa bactéria libera compostos responsáveis pelo odor na tentativa de atrair um artrópode específico como forma de espalhar seus esporos.

A fragrância tem destaque quando a primeira chuva de uma estação molha o solo seco. Esse odor específico foi nomeado petrichor por dois pesquisadores australianos depois de um estudo da década de 1960. A pesquisa sugeriu que um óleo produzido por determinadas plantas durante os períodos secos era liberado quando chovia.

O composto orgânico geosmina é um dos principais compostos do petrichor e, há algum tempo, cientistas sabem que o gênero de bactérias Streptomyces produz geosmina. A princípio, todas as espécies de Streptomyces liberam esse composto quando morrem. Mas até o momento não se sabe exatamente porque ela produz esse aroma característico.
Comunicação química

Mark Buttner, um dos autores da pesquisa, diz que o fato de todas produzirem geosmina sugere que esteja relacionada a uma vantagem seletiva. Por isso, a equipe suspeita que sirva como um sinal. A alternativa mais óbvia é que se destine a algum animal ou inseto que possa ajudar na disseminação dos esporos.

Depois de realizar experimentos em laboratório e de campo, os pesquisadores identificaram que a geosmina atrai um tipo específico de organismo. Ao estudar as antenas do artrópode Calêmbolo, os cientistas descobriram que ele pode detectar e ser atraído pela geosmina e 2-metilisoborneol (MIB), liberados pela bactéria.

Os pesquisadores estimam que os dois organismos tenham evoluído juntos. Por um lado as bactérias servem de alimento ao artrópode e este espalha os esporos da Streptomyces ajudando a gerar novas colônias.

Assim, a produção de geosmina e 2-MIB fazem parte do processo de esporulação completando o ciclo de vida da Streptomyces ao facilitar a dispersão dos esporos pelos artrópodes.

Essa relação é essencial para a sobrevivência dessas bactérias. Porque a Streptomyces produz compostos antibióticos que as tornam tóxicas para moscas-das-frutas e nematoides. Por outro lado, o calêmbolo produz enzimas que podem desintoxicar desses antibióticos.

Assim, uma relação entre bactéria e artrópode, de quase 500 mil anos, pode explica a fragrância característica que sentimos após a chuva.

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