Pesquisadores familiarizados com as mudanças genéticas que o cientista He Jiankui fez nas gêmeas Lulu e Nana afirmaram que a manipulação específica realizada pode dar “superpoderes” aos cérebros dos bebês.
Em novebro do ano passado, se levantou uma polêmica na comunidade científica com o anúncio de um pesquisador chinês de que teria criado bebês geneticamente modificados. Na época, ele disse que o objetivo dessa alteração era imunizar as gêmeas contra o vírus HIV.
De fato, o gene modificado, chamado de CCR5, está ligado à suscetibilidade ao HIV, mas um artigo publicado na quuinta-feira (21) na revista científica Cell mostra que também está ligado ao aumento da cognição cerebral em estudos com camundongos.
O gene ainda pode facilitar a recuperação de um ser humano após um derrame cerebral e estar correlacionado com o sucesso acadêmico, de acordo com uma matéria do MIT Technology Review.
Não há evidências diretas de que He Jiankui pretendia fazer alguma coisa para os cérebros das gêmeas. Em um congresso, o cientista insistiu que essa não era sua intenção, apesar de admitir que estava ciente das pesquisas sobre os efeitos da desativação do CCR5 no cérebro animal e humano.
Apesar disso, os dois primeiros seres humanos com cognição e memória geneticamente melhoradas já podem ter nascido.
“A resposta é provavelmente sim, a alteração afetou seus cérebros”, disse Alcino Silva, neurocientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), ao MIT Tech. “A interpretação mais simples é que essas mutações provavelmente terão um impacto na função cognitiva das gêmeas”.
Silva argumenta que He não deveria ter conduzido sua pesquisa, porque não há como prever o efeito que isso terá nas vidas de Lulu e Nana. O trabalho com animais demonstra que seria concebível aumentar o QI médio da população no futuro, mas ratos não são pessoas – simplesmente não sabemos quais serão as consequências ainda.
Silva coescreveu o primeiro estudo publicado ligando o CCR5 à cognição em 2016, mostrando que camundongos sem o gene exibiam uma memória significativamente melhorada, entre 140 outras modificações genéticas.
O neurocientista também observou o rápido progresso em testes clínicos com pacientes de derrame e com declínio cognitivo relacionado ao HIV. Mas “há uma grande diferença entre tentar corrigir os déficits em tais pacientes e tentar criar melhorias”, argumenta.
Ciberia // HypeScience / Futurism / MIT Technology Review