Os cinco pontos de atrito entre EUA e UE no encontro entre Biden e líderes europeus

Gage Skidmore / Wikimedia

Joe Biden, Presidente dos EUA

Depois do G7 e da Otan, Joe Biden se encontra com líderes da União Europeia em Bruxelas nesta terça-feira (15) para relançar uma parceria prejudicada pelos anos Trump. Depois da crise de relacionamento com o antecessor americano, que qualificou a UE como “inimiga” e não escondeu seu menosprezo pelo projeto europeu, Biden chega com um discurso radicalmente diferente.

“Acho que a União Europeia é uma entidade extraordinariamente forte e dinâmica”, lançou durante o G7 na Cornualha, uma fórmula totalmente inimaginável durante o mandato do seu tempestuoso antecessor.

O presidente americano se encontrará ao meio-dia (7h em Brasília) com o chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, representante dos 27 países, e com a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.

Essa primeira reunião UE / EUA em Bruxelas desde 2017 “não resolverá tudo, mas a diplomacia está de volta“, disse um alto funcionário europeu na segunda-feira. Há cinco principais pontos de atrito entre EUA e União Europeia:

Airbus/Boeing e impostos

É um dos conflitos mais antigos entre Bruxelas e Washington. Há 17 anos, a União Europeia e os Estados Unidos entraram em confronto com a Organização Mundial do Comércio (OMC) por subsídios ilegais concedidos aos fabricantes de aeronaves Airbus e Boeing.

Os dois blocos anunciaram uma trégua no início de março e suspenderam por quatro meses as taxas alfandegárias que impunham um ao outro. Um acordo deve ser fechado até 11 de julho.

Sob a administração Trump, Washington foi autorizado a impor impostos sobre quase US$ 7,5 bilhões de bens e serviços europeus importados a cada ano, com alíquotas de até 25% para vinhos e destilados e 15% para aviões da Airbus.

Um ano depois, a OMC autorizou Bruxelas a tributar US$ 4 bilhões nas importações dos Estados Unidos.

Aço e alumínio

A União Europeia tenta obter o compromisso dos Estados Unidos de resolver antes de 1º de dezembro a disputa comercial sobre aço e alumínio que há três anos prejudica as relações bilaterais.

Uma decisão de Donald Trump em junho de 2018 levou os americanos a impor impostos de 25% sobre as importações europeias de aço e 10% sobre as de alumínio.

A UE respondeu taxando produtos como motocicletas Harley-Davidson, jeans Levi’s, além de tabaco, milho e arroz dos EUA.

Um diálogo foi aberto desde maio para resolver o conflito. A UE desistiu de aumentar seus impostos punitivos em 1º de junho. “Cabe agora aos Estados Unidos agir”, disse a Comissão.

Tributação digital

Os gigantes digitais americanos Google, Apple, Facebook e Amazon são acusados ​​de se aproveitar de suas atividades digitais para sonegar impostos. A situação é ainda mais chocante porque esses grupos estão acumulando bilhões em lucros e são os grandes beneficiados da pandemia.

A França, seguida por outros países, abriu um impasse ao introduzir um imposto envolvendo esses grupos. Isso irritou a administração Trump.

Como a disputa ameaçava se transformar em uma nova guerra comercial, um acordo foi alcançado para buscar uma solução nas negociações na OCDE sobre um imposto sobre atividades digitais. O assunto está a caminho de ser concluído após a promessa do G7 de apoiar um imposto global mínimo para as grandes multinacionais.

Bruxelas e Washington também querem cooperar na regulamentação do setor digital e, em particular, no respeito à vida privada, a fim de proteger o livre fluxo de dados pessoais da UE para os Estados Unidos, questionado no ano passado por uma decisão do Corte da Justiça europeia.

Gasoduto Nord Stream 2

A construção do gasoduto Nord Stream 2, liderado pela Alemanha, deve dobrar as capacidades de entrega de gás natural russo para a Europa via Mar Báltico.

Washington e alguns países europeus – Polônia, Estados Bálticos e Ucrânia – acusam o projeto de aumentar a dependência da Europa do gás russo. Os hidrocarbonetos fornecem a Moscou uma ferramenta de pressão política e receitas preciosas para financiar seu complexo militar-industrial.

O início das operações foi inicialmente programado para o começo de 2020, mas foi adiado por ameaças de sanções dos EUA.

Relações com a China

A UE e a China anunciaram no final de dezembro a conclusão “em princípio” de um polêmico acordo sobre investimentos que deverá proporcionar às empresas europeias um maior acesso ao mercado chinês.

Mas esse acordo, em negociação desde o final de 2013 e anunciado antes da chegada de Joe Biden ao poder no início de janeiro, ofendeu Washington, que conta com o apoio europeu diante do rival recorrente em que Pequim se tornou.

Atualmente o acordo está congelado devido ao contexto político. A UE impôs recentemente sanções à China, acusada de violações dos direitos humanos na região de Xinjiang. Pequim respondeu sancionando várias personalidades e organizações na Europa.

// RFI

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