Pegadas fossilizadas desafiam a teoria da evolução humana

A descoberta de pegadas fossilizadas na ilha de Creta, na Grécia, entra em conflito com a teoria que defende que a humanidade teve origem na África.

Um conjunto de pegadas com quase seis milhões de anos descobertas recentemente na ilha de Creta, na Grécia, pode pôr em causa a visão da África como “mãe” da raça humana. A descoberta foi publicada na revista Proceedings of the Geologists Association.

Até agora, a maioria dos pesquisadores situaram a origem geográfica dos hominídeos no continente africano. A teoria sobre a evolução da linhagem humana foi baseada no conhecimento dos primeiros restos fósseis de australopitecos no sul da África em 1924.

Na época, consolidou-se de imediato a descoberta das pegadas em Laetoli em 1976. De acordo com os especialistas, essas pegadas pertenceram a hominídeos que caminharam verticalmente há cerca de 3,7 milhões de anos.

A recente descoberta das pegadas tão antigas na ilha de Creta, realizada por uma equipe internacional juntamente com a Universidade de Uppsala, na Suécia, pode por à prova a popular teoria e apresentar uma realidade mais complexa.

As pegadas encontradas em Trajilos, na Creta ocidental, têm a inconfundível forma do pé de um hominídio precoce, especialmente na parte dos dedos, ainda que se trate de uma espécie ainda mais primitiva do que o de Laetoli, segundo o relatório da universidade sueca.

As pegadas de Creta foram marcadas sobre uma costa arenosa, possivelmente na foz de um rio, enquanto que a de Laetoli foram feitas sobre cinzas vulcânicas. “A controvérsia é a idade e a localização destas pegadas“, explica o professor Per Ahlberg, da Universidade de Uppsala e um dos autores da pesquisa.

Estas pegadas, de aproximadamente 5,7 milhões de anos, são mais jovens que o fóssil do hominídeo mais antigo conhecido, o “Sahelanthropus tchadensis“, mas quase um milhão de anos mais velho que o “Ardipithecus ramidis”, um primata com pés similares aos dos símios.

Assim, a descoberta entra em conflito com a hipótese de que o “Ardipithecus” seja um ancestral direto dos primatas posteriores. Até agora todos os fósseis de hominídeos com mais de 1,8 milhão de anos foram encontrados na África, o que levou a maioria dos pesquisadores a acreditar que o grupo tinha começado a evoluir naquele continente.

O professor Ahlberg assinala que a descoberta em Creta “desafia a narrativa aceita” sobre a evolução precoce da humanidade e que é provável que gere muito debate.

Basta agora saber se “a comunidade de pesquisadores da origem humana” aceita estas pegadas fossilizadas como “prova conclusiva da presença de primatas no mioceno, a quarta época da era geológica Cenozoica, e a primeira época do período Neogeno, de Creta”, conclui o acadêmico.

Ciberia // ZAP

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