Cientistas encontraram na Indonésia as pinturas rupestres que já são consideradas as mais antigas do mundo. A descoberta pode mudar completamente a história da expressão artística.
Nas cavernas das montanhas na província de Kalimantan, na parte indonésia da ilha de Bornéu, foram encontradas pinturas rupestres que podem ser as primeiras representações no mundo feitas pelo homem, segundo um relatório publicado esta semana na Nature.
Essas pinturas rupestres retratam animais parecidos com vacas e mãos, muitas mãos.
Os cientistas adiantam que as pinturas de Bornéu têm entre 40 e 50 mil anos e a datação pode mudar muito do que até agora se pensava sobre essa primeira arte figurativa humana.
Em primeiro lugar, contradiz a ideia de que as primeiras representações de figuras de animais e humanas surgiram na Europa Ocidental. Afinal, a história é bem mais complexa do que se pensava.
Segundo o Diário de Notícias, essas pinturas rupestres já eram conhecidas na década de 1990, mas sua datação rigorosa ainda não tinha sido possível, devido ao acesso extremamente difícil. Mas, agora, tudo mudou.
Uma equipe de pesquisadores indonésios e australianos, liderada por Maxime Aubert, da Universidade de Griffith, em Queensland, na Austrália, foi até lá e recolheu uma série de amostras dos diferentes locais onde existem pinturas. Então que os cientistas foram surpreendidos: a idade das mais antigas supera a das outras, que já eram conhecidas, como as que existem em diferentes zonas da Europa Ocidental.
A equipe de Aubert recorreu a uma técnica de datação radiométrica dos depósitos de carbonatos de cálcio. “A pintura mais antiga que encontramos na gruta representa um animal não identificado, provavelmente uma espécie bovina selvagem da floresta do Bornéu, que tem pelo menos 40 mil anos e que é agora a pintura figurativa mais antiga conhecida”, explica o cientista.
Já no que diz respeito às representações das mãos, a datação mostra que têm no mínimo idade idêntica, podendo chegar os 52 mil anos. Essas pinturas fazem lembrar as pinturas de crianças, que pintam o papel à volta das mãos.
São, então, as pinturas mais antigas conhecidas, que destronam suas congêneres europeias. O especialista Adhi Oktaviana, do instituto indonésio de arqueologia Arkenas, de Jacarta, afirma que “a descoberta mostra como a história do surgimento da arte rupestre é mais complexa do que o suposto”.
Além disso, toda a história é envolta em mistério, devido ao muito que ainda não se sabe. Desconhece-se os autores dessas primeiras pinturas. “Quem eram e o que lhes aconteceu, é um mistério“, confessa Pindi Setiawan, um dos autores do estudo e cientista do Instituto de Tecnologia de Bandung, na Indonésia.
O único detalhe que parece estar claro é que essa manifestação artística surgiu em uma época em que Bornéu era o extremo leste do grande continente da Eurásia, uma vez que aquele território ainda estava ligado na época ao grande continente.
“O que agora se percebe é que essas manifestações de arte surgiram paralelamente, e mais ou menos na mesma época, nos dois pontos extremos da Eurásia do Paleolítico, ou seja, na região da Europa Ocidental e nessa região da Indonésia“, explica o arqueólogo Adam Brumm, coautor do estudo.
Além dessas, as grutas do Bornéu escondem ainda outras representações, ainda que mais tardias, que datam de há cerca de 20 mil anos. Para os cientistas, a rede de grutas serviu como uma espécie de tela de sucessivas gerações, desde os primeiros artistas humanos.