Cada vez mais sites e produtos criados pelas grandes companhias de tecnologia têm sido usados como fonte de informações por agências de justiça nos Estados Unidos.
Além de permitirem o contato com conhecidos e conteúdos criados em todo o mundo, as grandes plataformas digitais têm sido um meio rico à coleta de informações por forcas policiais. Segundo uma reportagem publicada pela AFP, cada vez mais sites e produtos criados pelas grandes companhias de tecnologia têm sido usados como fonte de informações por agências de justiça nos Estados Unidos.
Segundo o levantamento feito pelo veículo, os pedidos de acesso a dados pessoais dos usuários de plataformas digitais mais do que triplicou desde 2015. Juntas, Facebook, Google, Apple e Microsoft receberam 117.934 pedidos de acesso, sendo que em 85% dos casos eles foram concedidos.
Além de terem acesso a um número maior de dados, as forças policiais também estão mais eficientes em usá-los encobrindo suas ações. Entre os motivos para o aumento dos pedidos de acesso está o fato de que cada vez mais crimes podem ser ligados diretamente a atividades online.
“Tudo acontece no Facebook”, afirmou o tenente Robert Salter, detetive supervisor da polícia de Newport. A pequena cidade, localizada no estado norte-americano de Rhode Island, possui uma força com menos de 100 policiais, mas é responsável por mais de 24 mil pedidos de acesso nos períodos de férias em que se torna um ponto turístico movimentado.
Era de ouro da vigilância
Para Cindy Cohn, diretora executiva da Electronic Frontier Foundation, os oficiais de justiça norte-americanos estão vivendo “a Era de Ouro da vigilância”. Além de terem acesso fácil aos bancos de dados de grandes empresas de tecnologia, agentes conseguem ordens judiciais que impedem que seus alvos sejam avisados sobre o compartilhamento de seus dados — com isso, uma pessoa pode descobrir que foi investigada somente meses ou anos após o ocorrido.
Cohn afirma que a situação exige uma revisão das leis norte-americanas, já que o mundo digital traz menos proteção à privacidade. Além de ter acesso às informações básicas de uma pessoa e seus metadados (que informam sobre as ações realizadas por elas), forças policiais dos EUA também podem pedir que empresas de tecnologia guardem todos os dados de um indivíduo sem a necessidade de uma ordem judicial.
Segundo Armin Tadayon, associado de segurança cibernética na empresa de consultoria Brunswick Group, é possível que os dados armazenados sejam usados mais tarde durante uma investigação sem que uma pessoa saiba disso. Cohn argumenta que o sistema legal do país se baseia na presunção de que, se uma informação é importante, ela será guardada junto de um indivíduo e só pode ser acessada mediante um mandado judicial — algo que muda completamente de figura em um mundo digital, em que informações não são armazenadas de forma física.
Diante do grande aumento de pedidos, é comum que grandes empresas de tecnologia criem departamentos dedicados somente a respondê-los e filtrar quais possuem validade legal. Segundo a AFP, companhias que fornecem conteúdos famosos entre os jovens têm testemunhado o maior crescimento no número de requisições: a Snap, do Snapchat, respondeu a 762 pedidos em 2015, número que saltou para mais de 17 mil somente em 2020.
Enquanto o tenente Salter defende a ideia de que basta não cometer crimes na internet para não ter que se preocupar com a situação, Cohn, da Electronic Frontier Foundation, afirma que a situação é mais complicada. Para ela, empresas de tecnologia precisam se comprometer com a criptografia de dados para evitar que forças policiais criem “curtos-circuitos” nas proteções constitucionais e tenham acesso irrestrito às informações privadas do público.
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